Luiz Siqueira de Lima Neto*
O relógio anuncia as horas que perco de minha vida a cada instante me fazendo lembrar que a velhice está um pouco mais perto de minha porta. As madrugadas a fio, sozinho, ao lado de um copo de vodka com gelo, esquentam meu peito. Congelando todo o resto, o sono me pesa os olhos e olho para aquelas gotas que deslizam pelo copo e pingam sobre a toalha da mesa, indo embora com o tempo e questiono-me: ‘O que fiz de minha vida?’. Como um bom bêbado que sou, reclino minhas pernas cansadas sobre outra cadeira, fito o vazio e permito surgir em minha mente todas aquelas lembranças que me fazem sentir ainda mais derrotado, embalado pela bossa que não toca no carro, o cenário perfeito para florescer as dores do coração.
Esse canalha que não se decide entre essa ou aquela e me machuca com tamanha força que, às vezes, tento arrancá-lo e atirá-lo na sarjeta. Por que não ir mais devagar, sem pressa, com bastante medo, para não se arriscar tanto; perco-me dentro de mim, do vazio que me preenche, me apego a Deus e peço-lhe forças e coragem para abrir os olhos e colocar-me de pé um dia mais. Complicamos tanto a vida que nos afogamos em nós mesmos, somos nossos piores monstros. Sou um pierrô desgraçado. Assassinei minhas colombinas (cometi o mesmo erro várias vezes) e deixei todas as bailarinas chorando no meio do salão. Fico imaginando como seria minha vida por outros caminhos, mais simples, calmos; como minha vida poderia ser feliz ao lado de alguém que tanto me ama. Porém, eu e esse meu dom de estragar sempre tudo bem antes do ‘era uma vez...’, hoje consigo ser seu. Entretanto, pergunto-me angustiantemente: ‘quando poderei ser meu?’
(*) Disponível em: www.umpoucodoeuquecabedentrodenos.blogspot.com/
Ah! Qualquer semelhança com pessoas e/ou fatos reais (não) terá sido mera coincidência. Às vezes "temos medo" de nos transformarmos nesse tipo de personagem. Às vezes, "queremos" nos transformar. O que fazer? O que fazer? Apenas viver; talvez sonhar. Mas nunca deixar de "tentar".
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