Surpreendendo as estatísticas convencionais e decepcionando a teoria das mulheres de que os homens não são sensíveis, registramos aqui o diálogo entre dois homens investigadores de sentimentos. Pergunta-se: qual a diferença entre o amor e a paixão?
Homem 01- O que é o amor? Quem o define? O que define a paixão?
Homem 02- Comparo o Amor (com “A” maiúsculo) com a Amizade (idem). Quer Amor mais verdadeiro que o entre amigos? Falo de amigos verdadeiros, não colegas, não conhecidos. Mas, A-m-i-g-o-s. Pode haver brigas, desentendimentos, tudo. Os verdadeiros Amigos, não se afastam, não se cobram, não se metem na vida do outro ao ponto de prejudicar um ao outro. Eles querem o melhor para cada um. Assim é o Amor. Ele dá Liberdade. Já a paixão, vejo como uma chama avassaladora, maravilhosa, mas que cobra demais do outro e termina por desgastar a ambos.
Homem 01- Não nos apaixonamos pelos amigos? É isso? Seria meio homossexual dizer que sou apaixonado por um amigo ou que seria platônica a relação com amigas... Acho que a pergunta é sobre homem e mulher ou relações afetivas carnais, que configuram uma relação estável e, dessa forma, acredito que a paixão antecede o amor. Você não vê um estranho e diz “eu te amo”, você apenas cumprimenta e o observa, flerta, joga, seduz, tempera, incendeia, provoca. O amor é mais maduro, é a plenitude, é fim do desejo carnal, é o bem querer.
Homem 02- Não disse nada que contradiga isso. “A amizade é uma espécie de Amor.” E, quem participa disso, chama-se “enamorado”. Quando nos apaixonamos, somos “apaixonados”. Não percebe a tênue linha entre ambos? A paixão é adolescente, inconsequente, imprudente, temerária... o amor é maduro (concordo), é inexplicável. É quando conhecemos a pessoa de todas as formas e ainda assim continuamos a gostar dela. Na realidade, a amamos. É algo sublime, Sr. É amor o que sentimos por nossos filhos; por nossos pais; por nossos amigos. O sexo oposto? Apaixonamo-nos por suas qualidades (sejam elas físicas, intelectuais e até espirituais). Mas o tempo (oh! Sábio tempo) transforma uma provável paixão em amor. Não acredito em “Amor a primeira vista”. É paixão. Quando convivemos com a pessoa, quando a conhecemos bem, quando nos relacionamos com ela... aí vem o amor. E isso é para poucos hoje em dia. Todos dizem “eu te amo” (até para um estranho). Olhe nas ruas. A velocidade de relacionamentos é mais rápida que a transferência de dados on-line dos diversos downloads na Internet. Nesse exato momento, quantas pessoas estão usando o verbo “amar” como mera fantasia para externar uma “paixão” descabida?
Homem 01- [Risos] Tenho que concordar... discordando, claro! Isso a que você se refere - a velocidade de informação e aos downloads de sentimentos - não é amor e nem paixão, é apenas, no mundo moderno, a nova fórmula de exercitar sensações e sentimentos: é o que todos chamam de “ficar”. Que se resume a um único beijo, uma única transa ou simplesmente, um mero bate-papo virtual, com nomes falsos (nicks), para suprir as carências existenciais... Então, acompanhamos a modernidade? Posso afirmar que não. Não acredito que uma mulher de 30 anos ou uma jovem de 21, fica até as cinco da manhã, apenas brincando de “amar” ou de se apaixonar. O grande problema está nos rótulos da paixão e do amor, que são massificados pelos veículos de massa. Ou você já não viu senhoras casadas na frente da televisão se apaixonarem pelo personagem do malandro sedutor, que tem uma relação com uma mulher casada? E esse desejo quase exposto está ali, suspenso no ar, enquanto seu marido cochila no sofá, já bêbado, esperando a novela acabar para assistir ao jogo do time do coração, pra transferir seu sentimento de paixão àqueles 22 homens em campo? [Risos]
Homem 02- [Gargalhada. E muitas outras.] Explico, meu caro: “os homens preferem as loiras, mas... casam com as morenas.” Devo deduzir que as mulheres preferem os poetas, mas... casam com os malandros! Ah! Não me interprete mal... Malandragem é ginga, é esperteza, é quesito básico para a sobrevivência da espécie. Se olharmos para nossos antepassados pré-históricos, o que vemos? Eles, os machos, buscavam as fêmeas com maiores quadris, visando à reprodução; já elas, as fêmeas, queriam os machos com ombros mais largos, em busca de proteção. Um poeta, só protege uma dama, se estiver armado ou souber algum tipo de luta. O malandro... Bem, se ele for realmente malandro, dará um jeito! [Risos]. Sobre o cotidiano novela X futebol, bem... isso é um problema. Digamos que a incógnita “rotina” acaba com qualquer relacionamento. Na paixão, isso põe fim a tudo. Quando há amor, verdadeiro mesmo, com diálogo, pode ser combatido. Mas, perceba, que isso não é a “solução”, isso é a “questão”! Porque o primeiro e o último amor que devemos ter... é o amor próprio. Aí, tomamos uma posição nada agradável: queremos realmente estar com alguém, para todo o sempre (até que avida nos separe)? Ou será que precisamos conhecer mais de nós mesmos e de nossa vida – e as pessoas que nela existem – até nos aquietarmos e buscarmos uma família? Será que queremos uma família? Será que queremos Amar?
Homem 01- [Cínico] Aí está o “X” da questão, estamos falando de amor e de paixão e não de matrimônio. Os homens preferem as loiras, mas só casam com as morenas porque só as morenas toparam casar! Mas o que me faz deduzir sobre essa questão é que a paixão é libertina, o amor é obsessivo; a paixão é liberal, o amor é castrador. E quanto ao dialogo para resolver as diferenças, isso funciona entre amigos, não entre amantes. O que estraga as relações afetivas é a espera romântica da expectativa de quem assume as rédeas da relação, ou seja: quem “domina” sente-se mais feliz!
Homem 02- Hum... Discordo, discordo, discordo. Mas, vamos por partes: 1) A paixão é que é libertina, obsessiva e castradora. E ainda mais: induz às rédeas, expectativas (utópicas) e dominações! Você não entende que o Amor é imaculado? Perceba: é o Amor que é liberal. Quando amamos, amamos e pronto. Não desejamos nada em troca! É como lhe falei: um exemplo é o amor de uma mãe para seu/sua filho/filha. 2) Sobre resolver diferenças, claro que o diálogo resolve! Principalmente entre amantes! E, num relacionamento onde há Amor, não há sentimento de amizade, camaradagem, cumplicidade? Eis, sim, o “X” da questão! No Amor, há Amizade acima de tudo! Na paixão, há uma espécie de necessidade de troca entre as pessoas. Você dá seu sentimento, mas quer algo em troca. No amor, não. É incondicional. 3) Na paixão, quem dá as cartas, é mais feliz. Concordo. No Amor, AMBOS dão as cartas... ou, talvez, joguem bola... [Risos...]
Homem 01- Ponto de vista romântico, utópico e conservador, mas... respeito. Essa é uma relação madura - ouvir o outro, compreender e contestar alguns aspectos. Deixe-me dar um exemplo, quando me refiro às rédeas: alguém diz para você o que é certo ou o que é errado do ponto de vista dela. Assim, foram nossos pais, nossos amigos e nossas mulheres - mesmo as que se foram para amar outros. Então, dessa forma, é pensar que o amor não existe, pois se ele é transferível, não é imortal. Aí o que me resta é perguntar: o que VOCÊ preferiria? “Apaixonar-se todos os dias” ou “amar de vez em quando”?
Homem 02- Primeiro: se elas (nossas mulheres) se foram para “amar” outros homens, ótimo. Quando se ama, até se aceita uma separação, pois o que importa é o bem-estar do outro e o seu (se você fica sozinho, tem a oportunidade de conhecer outras pessoas e, possivelmente, apaixonar-se por elas ou amá-las...). Se, a pessoa “amada” se vai, ela, normalmente, procura uma nova “paixão”, não um amor. A paixão é imediatista; o amor é paciente. Quantas vezes, terei de repetir que o amor vem com o tempo? A paixão é como o vento! Se vai e se vai e se vai (assim como as tais mulheres...). Segundo: sobre o fato do amor não existir... por ser transferível. Isso me lembra nossas almas. Acredita nisso? Se não, esqueça, não adianta argumentar, mas... se acredita... Elas se transferem de um corpo para outro, com o tempo. E, até onde eu saiba isso, sim, é um sinal de imortalidade, eternidade. Assim como o amor. Terceiro: apaixonar mil vezes ou amar apenas uma? Não sei, ainda não me apaixonei tantas vezes pra ter uma opinião formada. Eu quero me apaixonar milhões de vezes. Mas quero saber lidar com isso sempre. Acredite: a paixão dói. O amor acalma. Assim sendo, se amar uma única vez (e isso pode não ser possível, pois o Amor pode ser classificado por diversas formas e você amará muitas pessoas...) eu estarei quase às portas do paraíso. E, eu, infelizmente (ou felizmente...) ainda treino no purgatório, que é a Terra.
Homem 01- [Irônico] Ahhhhhh! Concordamos, então, só que falamos línguas diferentes, mas que levam ao mesmo ponto: a paixão é visceral, vem das vísceras... Então vem do corpo! Seria o amor é um espectro que ronda e não habita lugar nenhum? [Pausa] Calma! Isso é só provocação! Quantas vezes você ouviu alguém dizer: “olha, eu descobri que você é tão importante, tão especial que tenho medo de perder sua amizade. É melhor pararmos por aqui...”
Homem 02- Eu mesmo já disse isso. Não sei quantas vezes...
Homem 01- Então? Você não amou? Como se deixa de amar? Por que o amor finda? Na verdade, na verdade, nunca seremos capazes de amar, mas sempre teremos a necessidade de sermos amados!
Homem 02- Amei! Mas aí foi meu erro. Amei jovem. E, para mim, a pessoa era a mulher ideal (para mim). Só me esqueci de perguntá-la se eu era o homem ideal para ela. [Risos]. Hoje, “rio, contra a maré” (poético, não?). Mas, à época, sofri... num rio de lágrimas (novamente, a poesia). Sofri horrores. Estatisticamente, amei umas duas vezes. Mas “amar” não é sinônimo de “ser amado”. Eu me enamorei por duas pessoas. Em tempos diferentes, por motivos diferentes. Pela liberdade que queria, pela liberdade que lhes dei. Mas eu próprio não estava (talvez ainda não esteja) preparado para o amor. Venho experimentando paixões há anos. E cada uma vem com um preço diferente. O que aprendi (oh, Deus, como é terrível isso...) foi controlar meus sentimentos. E isso é muito ruim. Temer apaixonar-me para não sofrer novamente é um veneno para o possível amor. E, temo, sinceramente, não me deixar mais amar. Isso seria uma espécie de suicídio afetivo, confesso, mas preciso de tempo para me recuperar. Por enquanto, vou-me entregando a pseudo-paixões. Procuro pessoas parecidas comigo, para juntos, trocarmos experiências e sensações; gozos e risadas; culpas e conselhos. Enfim, vivermos, até um Amor chegar. Aí, descansarei em paz.
Homem 01- Pelo que entendi o amor, para ser bom, tem que estar velho. É isso? Há muitas contradições em tudo que foi dito por você. Porque é essa a essência do amor que você prega. Mas ela está ultrapassada, piegas... Posso lhe dar um exemplo claro disso: enquanto estamos discutindo filosoficamente os sentimentos, minha mulher está pensando que estou com outra e, por isso, ainda não cheguei em casa. Ou, ainda, que já estou bêbado, falando mal das mulheres. Não! Falo mal do amor que nos cega e não nos permite ver o outro exatamente como ele é - cheio de manias e defeitos (mais defeitos do que qualidades...) Mas onde está o “encantamento” do amor? Na perfeição? Outra palavra tão utópica quanto o amor... Por isso vou mergulhar na piracema da paixão, que por acaso é a contramão do amor. A paixão permite desejar mais de uma pessoa, mas daí, querer e estar com todas elas ao mesmo tempo, seria egoísta, desumano e cruel. Talvez, aí, esteja o meu amor, a vontade e a certeza de sempre querer voltar para casa!
Homem 02- Voltar para casa... Poético. Você acaba de descrever “um amor”. Não importa o que façamos, não poderemos nunca mudar a natureza do Homem. A humanidade vai evoluir e se extinguir e nunca chegaremos a um denominador comum. Mas uma coisa é certa: “sem Amor, nada seremos”. Sabe qual o antônimo do Amor? A indiferença. E disso o mundo está cheio. Dependendo do número de pessoas indiferentes ao que você sente, conheça (seja amor ou paixão) e se relacione, sua vida será melhor ou pior. Acredite: se buscarmos (em uma, dez ou mil pessoas) respostas para nossas dúvidas, não encontraremos. Ninguém sabe as respostas, meu caro. Ninguém. Nem eu, nem você. O que fizemos hoje, foram as “perguntas”. Certas ou não, estão lançadas. E que venham os próximos debatedores... Mas, segue um aviso: “as pessoas só se encontram (e se amam) quando não se procuram.”. Porque o que buscamos, na realidade, quando imaginamos alguém perfeito para nós... é simplesmente uma versão de sexo oposto de nós mesmos. Pare de procurar. Apenas, mostre-se (como você realmente é, sem disfarces...). E boa sorte.
Homem 01- Sabe qual é o sinônimo do ódio? Paixões mal-resolvidas! [Risos] A natureza do ser é óbvia, natural; são as pessoas se perderem e se encontrarem. Natural é perder; natural é achar que se achou e ficar perdido! Complexo não? Não posso responder perguntas com mais perguntas. Talvez seja esse o sentido, não temos respostas. Poderia aqui perguntar: por que alguns amam Deus sem nunca tê-lo visto? Precisamos acreditar em algo, dar sentido a nossa existência. Só que o problema esta aí: sempre concentramos nos outros o que deveria estar em nós. Mas, deixemos que as mulheres nos digam... [Risos] E falando em amor e mulheres... minha mulher acaba de ligar para dizer que nosso cachorro fugiu. Então, tenho que ir. Afinal, temos que buscar aqueles que amamos não é? [Gargalhadas]
Homem 02- Ô... [Gargalhada]
(Guilherme Ramos e Julien Costa, 26/02/2008, 23h25)
Eu mudo a cada instante. E talvez esses momentos estejam aqui, neste blog. Quer me conhecer (um pouco)? Visite-o. Permita-se. Participe. Comente. Seja diferente (ou indiferente). Não importa. Hoje em dia, tudo é válido: seja no "rubor", seja no "pálido".
1 comentários:
amei o diálogo...intenso...bem Gui de ser!!!
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