Recentemente dei uma entrevista ao Diogo Braz (Instituto Zumbi dos Palmares - IZP), promovendo a temporada do espetáculo teatral "Insônia" (em cartaz no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, Farol, ao lado do Cepa, todos os sábados de agosto e o primeiro sábado de setembro/2012, 20h. Preço: R$20,00 e R$10,00). Reproduzo-a por aqui, para ajudar na divulgação, mas a entrevista original pode ser acessada pelo link abaixo:
Seria muito legal ter a opinião de vocês por lá e por aqui! E, claro, a presença de vocês no espetáculo! Rssss...
Ramos de criatividade para todos os insones
Diretor de Insônia fala sobre o espetáculo e sua produção artística
Diogo Braz
Coincidentemente,
eles têm o mesmo sobrenome e, ao que tudo indica, devem ter passado
noites em claro por causa de suas mentes artísticas inquietas. Não à
toa, o ator, escritor e diretor de teatro Guilherme Ramos se inspirou no
insone conto do quebrangulense Graciliano Ramos para construir a
montagem da Companhia Teatro da Meia-Noite que está em temporada no
Espaço Cultural Linda Mascarenhas: Insônia.
Numa entrevista por
e-mail, o inquieto Guilherme Ramos gentilmente fala sobre o espetáculo e
mais alguns temas de sua produção artística. Vale a pena conferir o
bate-papo e a peça, que fica em cartaz até o dia primeiro de setembro,
sempre aos sábados, às 20 horas.
O espetáculo é
inspirado num conto de Graciliano Ramos, como se deu essa escolha? Você
não utilizou o texto de Graciliano na íntegra, como se deu o processo de
construção do texto do espetáculo?
Era 2006. Estava
adaptando “Vidas Secas”, romance de Graciliano Ramos, para teatro de
rua. Estava cansado, sem um pingo sono. Insônia das boas. Olhei para o
lado e lá estava o livro de contos “Insônia”, também de Graciliano. Dei
uma folheada, li o conto, reli o conto, pensei: “isso dá um texto e
tanto!”. Virei a noite adaptando. Quase não senti o tempo passar. Foi um
trabalho fácil. Prazeroso. O conto era enxuto. Aliás, Graciliano tem
essa coisa minimalista no que escreve. Não tive muito o que
“cortar”. Apenas segui a linha da história, traduzindo a introspecção
literária para a dinâmica teatral. No outro dia, após algumas horas de
sono diurno (que nunca repõem o sono da madrugada), vi que a obra
completaria 60 anos em 2007... E aí, a magia teatral foi acontecendo.
Mente inquieta |
O espetáculo é
de 2007, ano em que eram comemorados os 60 anos de lançamento do conto
Insônia. Além disso, há outras referências ao numeral 60. Qual é a
intenção de trabalhar com essa referência?
O espetáculo tem 60
minutos propositalmente, pois além de uma alusão aos 60 anos do livro e
da idade do autor quando faleceu, faz referência às divisões básicas de
tempo (60 segundos = 1 minuto; 60 minutos = 1 hora). Simbolicamente, um
relógio impiedoso e seu “tic-tac” medonho (que, segundo Graciliano,
seria um torturante “sim-não”).
Vocês são uma
companhia de repertório, correto? Possuem um arsenal de espetáculos que
podem ser apresentados. Por que escolheram Insônia para realizar esta
temporada no Linda Mascarenhas?
Insônia se tornou
um “xodó” da Companhia. Todos nós gostamos da produção. Mas, por seu
conteúdo mais “sério”, foi pouco apresentado nos palcos. O público, de
certa forma, prefere o humor – e isso tem de sobra dos outros
espetáculos. Daí, quando surgiu a oportunidade de compor a programação
do projeto do IZP, foi unânime: “Insônia MERECE isso.” E cá estamos. Em
cartaz. Por dois meses. Isso é muito bom.
Insônia é um
monólogo em que o personagem narra delírios que o fizeram despertar. O
que o espetáculo pretende despertar no público?
Reflexões acerca da
mecanização do homem; da inquietude do ser humano versus o
condicionamento de animal racional; da dualidade que nos cerca, nos
move, mas também, nos imobiliza.
Guilherme Ramos e a palavra |
A dúvida entre o
sim e o não, tal como a pílula azul ou vermelha no filme Matrix,
desenha um dilema que diversas pessoas enfrentam no decorrer da vida. Na
sua opinião, quais são os principais dilemas enfrentados pelo teatro
alagoano atualmente?
Arte... ou
dinheiro? Texto autoral... ou texto da SBAT*? Teoria teatral... ou
prática teatral? Teatro de grupo... ou empresa de teatro? Investimento
pessoal... ou edital público? Fazer teatro... ou arrumar “emprego”?
(*) Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
Qual a importância das temporadas para o desenvolvimento de um espetáculo?
Sabemos como é
difícil entrar em temporada em Maceió. Poucos teatros (com
pauta acessível), pouca segurança nas ruas, poucos locais para
estacionamento, pouco dinheiro, pouco interesse... Quando alguém decide
enfrentar tantos empecilhos e ir ao teatro, precisa ter acesso a um bom
trabalho. E bons trabalhos só são alcançados com muitas apresentações,
com o público presente. E isso só é possível com longas temporadas. Um
final de semana apenas não faz um espetáculo amadurecer. Em
alguns casos, um final de semana transforma-se na única chance de um
grupo ser conhecido pelo público. Ao seu término, o fantasma da falta de
incentivo, além de todos os problemas já citados, podem até “matar” a
produção e esta nunca mais ser vista. Uma temporada longa é a antítese
desse processo: espetáculo e grupo ganham força com o
passar do tempo, ganham experiência e, é claro, um público.
Você é dono de uma mente criativa e inquieta. Artisticamente, o que tem feito você perder o sono ultimamente?
São tantas
coisas... Escrevo um romance há anos; tenho idéias e mais idéias de
outros livros (romances, contos, RPG* etc.), alguns já iniciados; há
quatro ou cinco textos teatrais que lutam entre si – na minha cabeça –
para ver quem será escrito primeiro; há desejos de adaptação de outras
obras literárias para o teatro; há textos de teatro (entre eles, um
musical infantil) já escritos, ainda inéditos, clamando para serem
produzidos; há músicas e trilhas sonoras compostas (e em composição)
esperando o momento certo para serem utilizadas; e há meu blog (www.prosopoetica.blogspot.com),
onde posto minhas inspirações que não cabem – ainda – nos palcos. Este
último é quem tem me confortado, porque a literatura, o teatro e a
música exigem mais de você. “Blogar” é mais simples: postou, tá valendo.
E qualquer um com Internet, acessa. Por conta disso, tenho investido um
pouco mais nele. Estou criando um livro on-line (e gratuito) de contos
sequenciados, como se fosse uma série de TV. Cada capítulo-episódio
terá começo, meio, fim e desdobramentos para o próximo. A temporada
completa deve ter entre 11 e 22 episódios semanais, quinzenais,
mensais... É uma experiência nova para mim e não sei no que isso vai
dar, mas você pode tirar suas próprias conclusões: book-trailer em: http://prosopoetica.blogspot.com.br/2012/08/post-mortem-video-de-abertura.html.
Post Mortem – Quando Tudo Começa, um seriado literário composto por
contos sequenciais inundados por um oceano fervente de realismo
fantástico, cercado por traiçoeiros icebergs de verdade nua e crua – da
vida (pós-morte).
(*) Role Playing Game (jogo de interpretação de papéis).
Arte com A maiúsculo |
O que o público pode esperar do espetáculo Insônia?
Um dos mais
sufocantes contos de Graciliano Ramos numa das melhores atuações de um
ator alagoano. Marcos Vanderlei dá tudo de si nesse personagem. Sua
preparação foi além da literatura e do teatro. Sua performance vai além
do corpo. Só assistindo para entender o que digo. Não é marketing. É
Arte. Com “A” maiúsculo.
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