sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Tristeza


Eu ando triste. E isso não é legal. É uma sensação de perda, sem ter perdido nada. Um vazio, estando cheio de tudo ao meu redor. Um frio na espinha, enquanto o corpo arde em febre. Um humor ácido, que derrete a mais singela alegria. Uma sombra tão forte que obscurece o céu e o sol, do nascer ao seu se pôr.

É viver numa lagoa salgada, num mar morto, num rio vazio, cheio de pedras e com uma cachoeira logo à frente. É ser perigo iminente. Possibilidade de morte presente. Ausência quase plena de terror paralisante. Um suspense de tirar o fôlego do mais afoito. Assim estou.

Não que eu queira isso. Jamais! Queria estar feliz, sorridente, radiante e inabalável. Mas o dia não me quis assim. E eu, sem forças para relutar, não me esforcei para mudar. Errado estou, tenho certeza disso. Não quis lutar contra o poder obscuro da mesmice (des)humana. Para mim, tanto faz, como tanto fez.

Grande coisa, ser humano. Para que tanto conhecimento e ser tão desprezível com os seus outros? Para que tanta força, para usa-la contra os mais fracos? Para que tantas palavras, se elas nem ao menos passam perto das reais intenções...

Desiludido. Entristecido. Distorcido sentimentalmente. Não é algo que se orgulhe. Não é algo que se rotule, mas é assim. Olhando para um espelho não me vejo. Não me enxergo. Apenas olho. Adiante. Em minha fronte, o suor corre desregrado e grosso, lubrificando rugas e verrugas insistentes da idade – que me consomem ad eternum – sem perdão.

O que me aguarda a seguir? O que me virá após isso? Não sei e nem quero saber. O momento é de inteira indefinição. Perdição. Interdição. Uma gota de sangue em alto mar. Um alerta aos tubarões: eu sei matar. Um perigo inconstante. Sobressalente. Impotente.

Eu, dormente, flutuo entre passos incertos com um insuportável peso de algodão nas costas. Dele escorre sangue, fresco, atraente para os abutres da sociedade. Que, em sua irracional perseguição, buscam, na minha carcaça, saciar-se. Já aviso logo: na minha carniça, mando eu. Nem adianta afiar as garras. Deixe-as cegas mesmo. Não vai rolar.

Um banquete funesto comemorará meu infortúnio. Meu óbito será manchete para as câmeras da TV, para os intervalos das rádios, para as lentes dos jornais. Sanguinolentos, sangrentos, surreais, eles registrarão minha história mais falsa, fazendo a multidão acreditar que o vilão sempre fui eu. E até eu, onde estiver – ou além – no além, irei acreditar. Porque essa, no final das contas, será a verdade absoluta.

E, no fim dos meus dias, a tristeza será só um punhado de ossos, largados no ossuário de alguma capela de cemitério popular, por não ter mais ninguém para recolher meus restos mortais. Imorais. Amorais.

Triste em saber, só me resta renascer.

E começar tudo de novo.

Numa outra vez mais...

(Guilherme Ramos, 19/09/2013. Numa hora qualquer...)

Imagem: Google.

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