5.
– Sssssssssiga em frente... –
Aquela frase se repetia.
Isso não iria acabar bem. Eu
tinha certeza. Ou quase certeza. À medida que adentrava aquele cômodo úmido,
frio, os odores da morte sumiam. Deram lugar ao quase agradável fedor de mofo,
lodo e coisas gosmentas. Mas minha vontade era de continuar. E ficar lá para
sempre. Porque sabia que lá era meu lugar. Pessoas como eu não deveriam se
misturar aos vivos. Deveriam conviver com os mortos. No além-mundo. A terra era
para os que sofrem.
Então, lembrei de minha missão na
casa. E nada poderia me afastar dela. Tomei controle da situação e, antes de
entrar no quarto, foquei-me em meu “Santuário Astral”.
A morte não é apenas um estado
físico-espiritual, mas um continente inteiro de descobertas. Seus limites nos
parecem horrorosos, assustadores, mas tudo por uma questão de estratégia. Para
afastar os curiosos... Afinal, se todos soubessem como era o tal pesquisado “outro
lado”, ninguém ficaria na Terra...
Atravessei, enfim, o véu da
desconfiança e cheguei ao meu objetivo: Ters
Mori, meu verdadeiro lar. Onde minhas forças são inexplicáveis, meus
sentidos inimagináveis e meu conhecimento insuperável. Mas meus inimigos...
implacáveis.
Eu tinha pouco tempo por lá. Logo
apareceriam oponentes e eu estava em minoria. Normalmente são seiscentos e
sessenta e seis oponentes por vez. Um desafio proporcional ao nosso poder. Mas
não tinha tempo para batalhas. Estava numa missão de limpeza e usar as sombras
ao meu favor era uma questão de segurança. Isso teria um preço. Tal
“invisibilidade” para as trevas na Terra poderia ser minha ruína. Afinal, há um
Mal bem maior onde me encontro. Chama-se “Voragem”. E, como o próprio nome já
diz, devora tudo e todos que estiverem à frente. Voragens são como tubarões gigantes
num oceano de sangue e mortos. Um banquete eterno. E eu seria a carne mais
fresca. Aliás, a única carne, já que o ambiente é naturalmente, povoado por
almas.
Enquanto me esgueirava na
projeção do que seria a casa, para me aproximar do local onde deveriam estar os
corpos do casal e da criança, senti algo se aproximando... Sutil, esperto, mas
não tanto quanto eu. Fingi, no entanto, não percebê-lo, para ver o que estava planejando...
E o tudo mais... só foi mais...
escuridão.
(Guilherme Ramos, 22/07/2012, 11h31. Para minha prima Paty, a quinta parte... Antes que ela me mate! Rsss...)
2 comentários:
E a curiosidade aumentandooooo
ahauhauhauahuahua
bem legal! me fez lembrar hellblazer, acho q pela linguagem e pelo tema... ^^
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