terça-feira, 26 de maio de 2009 2 comentários

Sobre Casas (Abandonadas) e Pessoas (Idem)




Não importa que a tenham demolido…
A gente continua morando na velha casa em que nasceu.
(Mário Quintana)


Hoje, por um acaso, estive na rua em que morei por mais de 20, 30 anos. Num diálogo simples, sem muita pretensão, vi-me observando algumas residências. Eram poucas, já que, a maioria, tornou-se edificações comerciais, resultantes do perfil do bairro (Levada, Maceió/AL): depósitos e mais depósitos.
Estava eu em frente à minha (antiga) casa (Rua Conselheiro João Alfredo, também conhecida como “Rua da Vitória”. Ambas com o “nº 62” e o “CEP 57.017-080”. Podem localizar no Google Maps). Tudo mudado. A fachada já não é a mesma. Sedia (hoje) uma companhia de teatro. Ao redor, muitas (outras) mudanças. Apenas seis casas continuavam (aparentemente) as mesmas: três com moradores, três abandonadas. Seus proprietários haviam percebido que o bairro deixara de ser residencial, transformara-se em comercial e deram o fora. Assim como eu.
Mas “uma” casa me chamara a atenção. Ficava quase em frente a minha (antiga) casa. Acho que o número era 68. Lembro-me, quando eu morava naquela rua, ela pertencia a duas senhoras, com sua filha. Eram tempos interessantes. As “proprietárias” tinham muito zelo com a fachada. Sempre que as festas populares se aproximavam, novas cores apareciam, novos enfeites surgiam (bandeirinhas de São João, a estrela-guia do Natal, entre tantas que nem me lembro).
Mas hoje, com o falecimento delas, muita coisa mudou. Como era de se esperar, a herdeira vendeu o lugar e procurou algo melhor pra criar seu filho (assim como tantas outras pessoas.). Não tenho o que reclamar. Também saí da rua e fui pra outro canto.
Meus motivos foram outros. Apenas saí. Mas voltava sempre, já que fazia parte da Cia. de teatro. E, nessa noite (26/05/2009), estava olhando inocentemente a rua e refleti: seriam as pessoas como as casas que abandonamos?
Por que penso isso? Vamos aos fatos. Ao olhar as fachadas, percebi o abandono que lhes restaram. Não seriam, assim, as pessoas? Explico. Quando vemos fachadas abandonadas, agredidas pelas intempéries, não poderíamos comparar com os aspectos das pessoas que nos rodeiam? Vou além: fachadas a parte, o que restam dessas residências? Mesmo as fachadas “acabadas” (como qualquer pessoa com a idade), o que escondem “dentro” de si?
Arquitetonicamente, lembro de uma sala de estar, luxuosamente decorada com motivos internacionais – as antigas donas viajaram o mundo inteiro, seguida por um corredor (comum às casas coloniais), portas à direita (quartos), outro estar (com um piano de armário que até hoje me arrependo de não ter comprado – pois o mesmo foi destruído por cupins e jogado fora), cozinha, copa, serviço e outras dependências comuns à casa da mesma época.
Hoje, sem paredes internas, é apenas anexo em um depósito de um ponto comercial. Paredes de um passado glamouroso deixaram de existir. Não seriam, assim, as pessoas? Deixam-se levar (e devastar) pelo progresso-futuro-sei-lá-o-quê e destroem-se por dentro, restando apenas uma fachada?
E, essa fachada, mudada pelo tempo, vai envelhecendo, desgastando-se, destruindo-se e transformando-se em apenas mais um nada na lembrança dos outros? É isso o que queremos de nós mesmos?
A fachada ganha rachaduras, fungos, vegetação (sementes trazidas pelos pássaros, presumo) etc. e permanece – como nós, meros transeuntes – de uma história que poucos sabem. Que poucos partilhamos. Mas não queremos esquecer. E nem deveríamos.
E essa é a lição que tiro dessa noite estranha – repleta de lembranças e comparações: somos fachada que resiste ao tempo, mas esquecemos do interior? No que mudamos? No que permanecemos? No que fomos mudados? Será que ficamos iguais e deixamos o “tempo” nos preencher de poeira, mofo e sujeira? Ou será que temos alguém que se preocupou e nos visitou e limpou o interior da casa, por 30 dias, para nos conservar? Ou, ainda, fomos demolidos por alguém que nos vê apenas como “mais um negócio” e – para seu benefício próprio – nos adaptou às suas necessidades? É preciso refletir.
Hoje eu vejo a casa e, ao me aproximar dela, toco sua fachada. Tento sentir o que minhas lembranças insistem em deixar em minha mente: uma casa; um passado; um presente mudado. E me pergunto: estaria EU assim? Ou pior? Apenas lágrimas (sutis, porque não estou para chorar hoje) me respondem às perguntas.
E me pergunto: que perguntas? Terei eu feito alguma? Se assim fizesse (em tempo hábil) não estaria mais tranqüilo quanto aquilo tudo? Ou seria um motivo a mais para questionar mais e mais?
Acho que o amanhã tem a resposta. E ele tem nome. Guilherme. Após dormir, descansar e (tentar) ser um pouco menos passional (talvez) eu possa dar a minha contribuição ao (meu) mundo: cada pessoa é sua casa e cuida dela como pode (ou sabe). Mesmo na ignorância, ainda podemos ser sábios. Basta-nos acreditar no que pensamos; daí, fazemos. E, aí, vivemos (para sempre) a acreditar. Isso basta. A “fachada” dependerá da responsabilidade social de cada um. Quanto melhor, mais. “Tombemos” nosso patrimônio imaterial pessoal. Talvez um novo significado para IPHAN* (Instinto Pessoal de Humanidade e Autopreservação Necessária) possa ajudar. Mas, acima de tudo, é preciso viver e “deixar rolar”.
Eu estou vivendo. Tem gente que não sabe... o que está (se) fazendo.
Desejo reformas e revitalizações para todos em breve. Porque o segredo das construções está no projeto. Depois que as fundações estão no lugar, mudar é difícil. Ou caro. E (quase) ninguém está disposto a investir mais. Daí é abandono e/ou descarte.
Agora, o paralelo: comparando você a uma edificação (talvez abandonada), em qual estágio/estado você está?
Bem, de qualquer forma, boa “reforma”!


(Guilherme Ramos, 26/05/2009, 4h23. Sem – ainda – saber a resposta...)


(*) IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
segunda-feira, 25 de maio de 2009 2 comentários

Divagar Devagar

Divagar e sempre.
Devagar...
Quase parando.
(Para pensar.)


(Guilherme Ramos, 25/05/2009, 15h06)
quarta-feira, 20 de maio de 2009 1 comentários

Ser

É simples ser
Complexo.
Complexo,
É ser simples...

(Guilherme Ramos, 20/05/2009, 12h34)
sábado, 16 de maio de 2009 3 comentários

Corpo

E de repente à noite,
Senti sua falta
(Em minha cama...)
Se meu corpo
Desejou seu corpo,
Fiquei quieto,
(Não fiz drama...)
O que mais poderia fazer?
Pois só o seu
(Somente seu corpo...)
Com tão pouco esforço,
Consegue me enlouquecer.
E sua ausência,
(Uma incoerência...)
Só me tira a paciência
E me enche a libido.
Sem você (Ah! Sem você...)
Nada mais me aquieta,
(O desejo me aperta...)
E você, fruto proibido?

(Guilherme Ramos, 16/05/2009, numa madrugada fria e às 21h17. Ainda noite, mas ainda assim, fria...)
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Toda Rotina Tem a Sua Beleza

A ideia é a rotina do papel.
O céu é a rotina do edifício.
O início é a rotina do final.
A escolha é a rotina do gosto.
A rotina do espelho, é o oposto.
A rotina do jornal é o fato.
A celebridade é a rotina do boato.
A rotina da mão é o toque.
A rotina da garganta é o rock.
O coração é a rotina da batida.
A rotina do equilíbrio é a medida.
O vento é a rotina do assobio.
A rotina da pele é o arrepio.
A rotina do perfume é a lembrança.
O pé é a rotina da dança.
Julieta é a rotina do queijo.
A rotina da boca é o desejo.
A rotina do caminho é a direção.
A rotina do destino é a certeza.
Toda rotina tem a sua beleza.

Como bom "sagitariano", ODEIO ROTINA. Mas essa, eu gostei! Rsss...

É um comercial da campanha
"Natura Todo Dia". Clique no link e curta o (fantástico) vídeo.

Olha: eu não ganho nada ao divulgar esse "comercial" aqui. Mas identifico uma obra de arte quando a vejo. PQP! Eu queria ter escrito isso! Rssss...

Simples. E perfeito. Como TUDO deveria ser.
sexta-feira, 15 de maio de 2009 1 comentários

Flerte

Ficava ele, ansioso,
Em busca de uma solução:
Ao seu lado, era tudo "talvez"
Até a certeza do "sim" (ou do "não").

(Guilherme Ramos, 14/05/2009, 22h34, em meio a delírios... Febre? "Talvez"... "Sim" ou ... "Não"? Rsss...)
quarta-feira, 13 de maio de 2009 2 comentários

"Acensibilidade"

Gosto das pessoas "Acensíveis"
("Acessivelmente Sensiveis").
Porque de nada vale se dizer "sensível",
Se não for "acessível" (ao toque, pelo menos).
Aquilo que "te toca", sugere acesso.
E o que toca o coração, permite afeto.
(Ou será que estou enganado?)
Afetando-se, acessando-se, sensibilizando-se.
Enfim: vivendo-se. Ao menos, com qualidade.
De verdade. Independente da idade.

(Guilherme Ramos, 11/04/2009, 01h06, "acessando" a Net; "sentindo-se" o Nerd.)
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Luzes

Em "prosa":

Apaga as luzes, o sol ainda está lá fora.
Quando a noite chegar (e ela está próxima)
Apenas uma luz - a lua - nos bastará.

Em "poesia":

Apaga as luzes. Agora.
O sol ainda está lá fora.
E, apesar da noite estar próxima,
Só a luz da lua nos bastará.

Dúvida cruel... Isso é um problema "prosopoético"! Rssss...

(Guilherme Ramos, 26/02/2009 e 13/05/2009. Mas foi à noite, eu sei. E a lua - em prosa ou poesia - estava lá...)
terça-feira, 5 de maio de 2009 2 comentários

Canção das Mulheres

(Lya Luft)

Que o outro saiba quando estou com medo e me tome nos braços sem fazer perguntas demais;

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a ideia da perda e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas, talvez, seu medo ou sua culpa.

Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele ou que não o amo mais.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo "Olha que estou tendo muita paciência com você!"

Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: "Mas que chateação essa sua mania, volta pra cama!"

Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: "Pôxa, mais um?"

Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro - filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma Mulher.

* * * * *

Uma homenagem a todas as mulheres do mundo - conhecidas ou não - mas que precisam ser (antes de tudo) bem compreendidas.
 
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