Ele acordou de um sonho
intraquilo, boca seca, mente vazia, espírito morto. Como se o mundo tivesse
acabado na noite anterior.
A casa estava vazia. Apenas móveis.
Imóveis. Tudo o que havia de vida naqueles cômodos se foi. Sem plantas, nem
bichos de estimação. O mais próximo disso eram suas telas de natureza... morta.
Ele parecia o próprio flagelo da morte, após o apocalipse.
Levantou-se. Tragou o que restou
de água na cozinha, vestiu a calça, a blusa, calçou uns tênis velhos e foi para
a rua. Imunda. Vazia. Não havia um pé de gente. Uma tristeza. Céu nublado, sem
chance do sol aparecer hoje. Nem amanhã. Nem depois. Enfim, seria um longo (e
cinzento) período.
Não se lembrava muito da noite
passada. Apenas meras palavras:
- Vai ser o bicho, mermão! Amanhã
a gente se manda. Você vai?
- Você é doido? – Respondeu. –
Não tenho condições. Não tenho dinheiro. – Complementou. – Vocês tem sorte; eu,
vodka. – E entornou mais um copo.
Seus amigos se foram. Seus
desejos se perderam. Sua chance passou. Só lhe restaram casas vazias, prédios
abandonados, carros parados, lojas fechadas, ruas e avenidas evacuadas... E
uma garrafa de vodka.
A cada novo gole, apagavam-se medos,
frustrações, tudo. E só se lembrava de hoje, da cama que levantou, da água que
bebeu. Das roupas que vestiu. Que dia era aquele? Quinta ou sexta? Manhã ou
tarde? Que maldito vazio! Era o fim do mundo?
(Quase isso...)
E, então, ele se lembrou:
-Puta que pariu... - Antes não
tivesse se lembrado - Foi o carnaval que começou!
(Guilherme Ramos, na quinta-feira
23 pós-apocalíptica, digo, pós-carnavalesca de 2012, durante um voo com destino ao Rio
de Janeiro...)
Imagem: propriedade do blog Meu Café na Madrugada. Todos os direitos reservados.
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