Havia apenas um mosaico. Em mim. Houve vazios, houve preenchimentos.
Houve dedicação. Esmero. Vocação. O resultado pode ser contemplado pelas mais diversas
plateias. O público que me visita e me conhece. O público afetivo. E afetado.
Pessoas que vem e vão com os dias, os meses, os anos. E a minha vida fica. E
segue em frente. A arte por mim imposta não deseja agradar a tudo e todos. Quer
apenas agradar a mim. Acalmar o meu coração que, tal qual tal mosaico, precisa
secar para ser concluído. A beleza que existe na obra de arte inacabada, não se
compara ao seu término. A conclusão de um sentimento é similar. Com exceção de
que não há críticos de arte. Há apenas críticos. E suas críticas de nada me
interessam. Meu “mosaicoração” precisa de um tempo - apenas dele - para ficar
pronto. E, ao ser concluído, será único. No mundo.
Para mosaicos serem feitos, é preciso quebrar azulejos,
cerâmicas, vidros e afins. Assim como quebramos a cara, despedaçamos corações e
fragmentamos sonhos. Parece cruel, mas é em prol da arte. Isoladamente
quebrados, esses sentimentos-objetos servirão à construção de algo maior,
híbrido, repleto de histórias separadas, que se tornarão outra. Diferente.
Maior.
Corações, tais quais mosaicos, precisam passar pelo mesmo processo.
Quebra, seleção de pedaços, reagrupamento, colagem, secagem e acabamento. A
partir daí, estarão prontos. Para serem contemplados. Como merecem. Com a
grandeza que nunca deveria ter sido empregada a outro. Semelhante. Porque nunca
haverá outro igual. Nem mosaico, nem coração.
Mosaicos, tais quais corações, tem vida (im)própria. Passam
por intempéries que os desgastam. Somente os de qualidade resistem. É um
aprendizado lento, repleto de técnica, mas também da tradicional experimentação.
É de “tentativa e erros” que se alcança o objetivo. Tentativa. E erros. Muitos
erros. Somente assim chegamos aonde realmente queremos.
Corações. Mosaicos. Mosaicos. Corações. O que seriam, senão
agrupamentos de sensações? Sentimentos. Sentidos. Ressentidos. Consentidos. Às
vezes, sem sentidos.
Apenas mosaicos.
Apenas corações.
Assim como poesias são poesias; canções são canções.
(Guilherme Ramos, 26/12/2013, 17h01.)
Imagem: Google.
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