Acidentes. Acontecem. Você está por aí, totalmente adverso e… Pimba! Acontece. O acidente. Não é uma coisa que se queira. Que se deseje. Mas que nos persegue. Sem piedade. Sem clemência. Absolutamente sem dó. Porque tem que ser. Ou porque estávamos descuidados.
Descuidos são acidentes autoimpostos. Quando não damos a mínima para nossos atos e ações. Quando achamos que nada pode nos atingir ou sequer pensamos na possibilidade - real - de sermos vítimas de nós mesmos. Nosso pior algoz sempre somos nós. Porque temos o poder de permitir - ou não - que qualquer coisa nos atinja. Seja ela de cunho físico ou moral. Tornamo-nos vítimas de nós mesmos.
Vitimização é quando abraçamos acidentes e descuidos e sofremos, sofremos e sofremos. Inutilmente. Sofrimento sem providências, sem iniciativa, é uma morte premeditada. Quando esquecemos que ainda temos força o suficiente para remediar e nada fazemos. Afinal - pensamos - o que está feito, está feito e nem sempre se pode mudar.
Mudança, ao contrário do que se pensa nessas horas, não é, em sua totalidade, ruim. Mudar é típico da natureza. As estações mudam, as fases da lua mudam, a maré muda. Quase tudo muda. Exceto o homem que insiste em ser o mesmo. E sendo o mesmo, faz uma mudança que não deveria existir. E põe tudo a perder. E só nos resta reclamar.
Reclamar é falar, falar, falar, é praguejar, praguejar, praguejar... mas não fazer nada. É culpar tudo e todos. Fazer o inferno na terra. Beber litros de veneno e esperar que o alvo de sua reclamação enfraqueça, morra e desapareça. Reclamar é apenas querer sobreviver ao problema em si.
Problemas são desafios. Coisas que nos acontecem aqui e ali, proporcionando-nos apogeus. Ou declínios. É a hora do tudo ou nada. É quando mostramos o que somos. E do que somos capazes. E do que não somos capazes.
Mas o que somos? Um amontoado de moléculas de carbono, uma criação divina, um experimento alienígena. Apenas somos. Talvez tudo isso, talvez absolutamente nada. Mas somos. Somos únicos. Somos Próprios. Somos o que somos. Custe o que custar. Seguimos adiante. Em evolução.
E evoluções, assim como as revoluções, exigem perdas. Sobrevivem os mais adaptáveis. A força apenas não adianta quando o inimigo é invisível. Quando o inimigo está dentro de nós. E esse inimigo - silencioso e mortal - sabota-nos todos os dias, através de péssimas escolhas, péssimas ações, péssimos argumentos. Ele nos vence sem fazer esforço. E nem percebemos.
Então, se o inimigo somos nós, a quem apoiaremos? Estaremos apoiando o lado vencedor, mas também seremos o lado vencedor. De qualquer modo, perdemos. Mas, de certa forma também, de qualquer modo, ganhamos.
Face à guerra iminente, só há uma coisa a fazer: focar nos louros da vitória e não nas baixas da derrota. O derrotismo vai nos tentar. O derrotismo vai nos inspirar a desacreditar ainda mais em nós mesmos.
Cabe-nos resistir ao derrotismo e lembrar que para alcançar uma grande vitória, não podemos esquecer - e aprender - com as pequenas derrotas que pavimentaram nosso caminho. Acidentado. Foram igualmente, acidentes.
E acidentes, acontecem.
(Guilherme Ramos, 02/07/2014, 18h34.)
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