É. Ela ainda sentia alguma coisa.
Também sente que as coisas não estão bem.
Sente que ele se afasta a cada segundo, sem nem ao menos sair
do lugar. Seu olhar anda perdido, pedindo novas perspectivas. E o que lhe resta
é pura ilusão. De ótica. Anda meio torta... Fora de órbita.
Escuta Ed Sheeran, pedindo “Give me Love”, depois viaja com
A-ha, enquanto “Turn the Lights Down”, faz escala/conexão em Cold Play,
desejando “Fix You”, perdeu as contas das vezes que escutou Birdy e seus
“Comforting Sounds” ou Oceanlab, sugerindo-lhe “Breaking Ties”. Mas é passiva.
De erros. Ele também. Apenas escutando. Músicas. Internacionais. Ao invés de
traduzir. Seus sinais. Seus desejos. Reais.
Desliga o som. Nada mais lhe precisa entrar pelos ouvidos.
Nem música, nem palavras. Sem silêncios duradouros, não se pensa direito. É
preciso ouvir o coração. Escutá-lo bater. Bombear sangue. Ao invés de mágoas.
Tristezas. Saudades. Sem data de vencimento.
[Escutando o coração...]
[Só mais um pouco...]
[Quase lá. Você deveria fazer o
mesmo...]
[Fez?]
[Ela espera.]
[OK.]
Liga o som novamente. Mesmas músicas. Mesma sequência. Mesmo
volume. Previsível. Mas o efeito é diferente. Não há dor. Nunca houve. Há um
desejo de esquecer. De (re)viver algo novo. De evitar pensar em algo que não mais
existe. Mas como, se acredita em tudo? Até em fantasmas...
As redes sociais mostram sua incrível capacidade de tentar
ficar bem. Melhor. Sem ele. Resta-lhe não ligar para o que vê (e o que não vê)
por aqui e por ali. Na esperança de dias melhores. Para ela e para ele. Porque
o que sente é mais do que se pode explicar. Esconder isso dos dois, com medo do
que o passado lhes fez, com medo do que o futuro pode lhes causar, é subestimar
o presente – e o que realmente importa.
É como querer atravessar paredes sem abrir algumas portas. É
querer ficar debaixo d’água e tentar sobreviver. Sem seqüelas. É querer saltar
de um precipício e achar que pode voar. Mesmo sem asas... É querer. Mais.
Sempre mais. Mas... Sem mais nada ter.
Se, ao menos, ela o tivesse ao seu lado, a queda não
pareceria tão grande... E a morte, essa indesejada, estaria distante. Não seria
quase nada. Porque viver sem ele era completamente, definitivamente,
racionalmente possível.
Porque o mundo não precisa dos dois juntos, para girar.
(...)
Mas, com certeza, ele girava bem melhor...
(Guilherme Ramos, 02/05/2013, 22h59.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
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