4.
Era pagar pra ver. Nem que fosse
com a vida.
Mas pagar como? Se nem tinha
recebido o cachê do trabalho? E, do jeito que a coisa ia, talvez nem recebesse.
O ambiente tava carregado! O ar parecia mais grosso. Era difícil respirar ali
dentro. E enxergar também...
A casa começou a feder. Carne
podre. Muito podre. Carniça completa. Morte. Antiga. E violenta. Eu podia
sentir a agonia dos que ali habitavam. Um homem e uma mulher. Casados. Apaixonados.
E ela estava grávida. Sete meses. Então foram três mortos. Um deles sem nem
saber o que o acertou. A pobre criança ainda sofreu por horas, mesmo após a
morte de sua mãe.
Como eu sei disso? Não sei. É o
meu dom. Eu vejo a morte e seus rastros. Seus filhos desgarrados, pedindo
clemência e o fim de sua agonia. Eu sou... o fim da dor.
Eu nasci assim. Lembro de quando
minha mãe me pariu e todas as outras crianças de outras mães não sobreviveram.
Eu me lembro do choro das mulheres na maternidade e o silêncio dos
recém-nascidos. Eu me lembro da luz e das sombras lutando pelo local. Ou será
que era por mim? Nunca saberei a resposta. Mas eu vi mais do que qualquer ser
vivo poderia ver. E isso me forjou o que sou.
Eu não chorei quando nasci. Apenas
escutei aquele lamento coletivo, aquela dor materna e aprender com tudo aquilo.
E, até agora, deu certo. Estou vivo, certo? Mas aonde vou, a morte está
presente. Aqui não seria diferente.
Olhei ao redor e, o pouco que vi,
não me revelou muita coisa. Mas sabia que as respostas estavam mais à frente.
No quarto, com a porta entreaberta, quase me provocando, me convidando a entrar
e deixar essa vida de sofrimento para trás. Assim como o casal de outrora.
Resolvi aceitar o convite.
Correndo o risco de nunca mais voltar. Apenas disse:
- Estou pronto... Mas será que “vocês”
estão?
- Sssssssssempre... – Sibilou a
escuridão. – Sssssssssiga em frente...
(Guilherme Ramos, 21/06/12, 22h23 A história ganha seu quarto capítulo. O que virá no quinto?)
0 comentários:
Postar um comentário
Sua participação aqui é um incentivo para a minha criatividade. Obrigado! E volte mais vezes ao meu blog...