Mãos corriam – para lá e para cá – tocando paredes, vãos de
portas, obstáculos diversos e não encontravam respostas para a pergunta “onde ele está?”. Isso a deixava cada
vez mais confusa. Curiosa. Constrangida. Pois nunca lhe havia acontecido algo
semelhante. Jamais precisou de ajuda. De ninguém. Sempre se virou muito bem
sozinha. Até aquele momento.
Estava tudo escuro em sua cabeça. Imagens não se formavam, ambientes
tornaram-se desconhecidos, pessoas ficaram totalmente desfocadas. Nada. Não havia
mais luz. Absolutamente nada penetrava em seus olhos. A não ser uma última
imagem. Dele. De sua partida. Marcada em seus cristalinos. Tão cegante, quanto traumático.
Imagem estática, congelada. Numa quase tatuagem que não lhe despregava dos
olhos. Impossível qualquer outra opção de visão.
Seus dedos percorriam todos os milímetros possíveis, buscando
o corpo dele, querendo traduzir suas palavras, procurar signos, metáforas,
parábolas. Mas em vão. Não há significado nem significante no vazio que lhe foi
imposto. Não havia braile para registro e compreensão. Não havia libras para transmissão
do que sentia e queria dizer. Não havia nada. Apenas o nada. Num vazio tão
cheio que a sufocava.
Atirou-se ao chão. Desconstruída. Desiludida. Desesperada.
Gritava como nem sempre se vê numa hora dessas. Frágil. Como uma taça de
cristal em meio à manada de elefantes furiosos. Não havia mais ninguém por
perto. Ninguém para escutá-la. Para ouvi-la. Para salvá-la. Nem ela mesma. Na sua
ânsia pela busca do outro, esqueceu-se de si própria. E isso lhe foi fatal.
Jurou nunca mais se deixar envolver assim. “Nunca mais” seria
sua partícula temporal. Egoisticamente particular. Mas o “nunca mais” tornou-se
muito tempo. Virou rotina. E, tal qual muita luz, cansou sua retina. Que
começava a clarear. Pensava que o “nunca mais” – assim como o “para sempre” – demoraria
mais. Tempo. Espaço. Tudo deixou de apenas ser. A questão de apenas ver, virou um
completo estardalhaço.
Mãos corriam. (...) Estava tudo escuro em sua cabeça. (...) Seus
dedos percorriam todos os milímetros possíveis, (...) atirou-se ao chão. (...) Jurou
nunca mais se deixar envolver assim. (...)
Era um ciclo sem fim.
Como a saliva queimava-lhe a boca, lágrimas queimavam o que
lhe restou dos olhos. Estava cega. Novamente. De paixão. Uma cegueira rubra.
Como o sangue que lhe fervia o corpo. Outros sentimentos, por hora, eram meros tons
de cinza.
(Guilherme Ramos, 03/06/2013, 01h34.)
(Guilherme Ramos, 03/06/2013, 01h34.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
1 comentários:
Muito
Muito
Muito bom!!!!
Parabéns amigo! Isso ficou visceral.
bjus
Carol
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