Foram apresentados há alguns anos. Profissionalmente. Mas
pouco se falavam. Setores diferentes. Até rolava o desejo de se conhecer melhor
– um segredo que cada um guardava dentro de si – mas não havia chance. Local de
trabalho era local de trabalho. Ninguém estava a fim de arrumar problema para o
outro, porque a empresa deixava bem claro: “nada
de relacionamentos entre funcionários”.
O dia a dia era sempre o mesmo. Rotina? Ele lá; ela cá. Cada
um na sua. Intervalos? Curtos. Mal dava para almoçar. Horários? Diferentes.
Ela, pelo dia; ele, pela noite. Folgas? Ela fazia trabalhos para a faculdade,
pensava no futuro; ele fazia extras, em busca de seus sonhos. E assim foi. E foi.
Assim.
Um dia, sem mais nem menos, ela saiu do emprego. Novos
horizontes. Ele, quando soube, já era tarde demais. Sem mais contatos –
telefônicos ou pessoais – o almejado encontro tornou-se impossível. E, para
piorar a situação, não sabia onde ela morava, qual seu novo emprego, por onde
andava... Enfim, um total desastre. Como poucos que eles se permitiam ter.
Talvez o jeito fosse, apenas, deixar rolar. Esquecer. Fácil? Isso não haveria
de ser.
Até que meses depois, nessas noites antissociais, quando ficamos
em casa, no computador, sem vontade de ver gente, apenas comentando e curtindo isso
ou aquilo nas redes sociais, sem qualquer outro compromisso com a realidade, os
dois se falam num bate papo on-line. Inicialmente formais, pareciam amigos. E
só. Meio frustrante também. Mas, aos poucos, o gelo foi quebrando e indiretas
inteligentes revelavam a vontade de se conhecerem melhor. Não perderam mais
tempo. Marcaram um encontro. Cinema. O básico dos básicos. Deveria funcionar.
Mas não funcionou. Ela teve um contratempo na faculdade.
Marcaram outro encontro. Dessa vez, foi ele que não pode comparecer. Marcaram
outro. O celular dele descarregou. Mais outro. O celular dela descarregou. E
outro. E mais outro. E mais outro... num total de dez. Seria cômico, se não
fosse mais uma vez, trágico. Contando, ninguém acreditaria. Era coisa de
novela, de filme, de série de TV. Ninguém nessa existência poderia desencontrar-se
tanto quanto eles. Beirava o surreal. Alguém lá em cima – ou, talvez, lá
embaixo – não queria que ficassem juntos. E continuaram distantes. Afastados.
Frustrados.
Depois de tanto tempo, de tentativas ao vento, ela cansou.
Resolveu sair. Sozinha. Sem ele. Sem ninguém. Foi estranho no início. Quando se
dava conta estava puxando conversa com qualquer estranho ou estranha, na mesa
ao lado. Ria de si mesma e relaxava. Entre uma ou outra golada, resolveu dar
uma volta no bar. Já no corredor que dá acesso aos banheiros, esbarra em
alguém. Ou, talvez, alguém tenha esbarrado nela. Não importava. Era ele. Era
ela. Eram eles. Os dois, finalmente, frente a frente. Simples assim. Como não
haviam conseguido antes. Como devia ser. Na hora certa. Porque, algumas vezes,
as pessoas só se encontram quando não se procuram.
(Guilherme Ramos, 05/06/2013, 23h45.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
1 comentários:
Gênio!!!
Amei mais esse conto!
Preparada para o próximo.
bjus
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