7.
Era matar... ou morrer. Eu não teria outra chance.
Voragens são guiadas pela fome incontrolável. Infinita. E meu sangue
parecia-lhe um bom e velho vinho. Pronto para ser degustado. A questão é: quando
algo é orientado por puro instinto, a razão precisa controlar as coisas.
- Vem, neném... Vem me fazer um “cafunezim”... – Disse,
abrindo os braços.
A Voragem não perdeu tempo. Avançou como uma bala de
canhão contra mim. Eu apenas dei um passo... e sumi. Já estava de volta ao
mundo dos vivos. O problema é que precisaria voltar o quanto antes, pois, já
dizia uma canção das bandas de lá:
Se lá me feri, eu preciso, por lá, me
curar...
Se eu me demorar, a ferida vai aumentar.
Sem cuidados especializados, ela irá
inflamar:
E o que não se vê na Terra, em Mori há de
matar.
É medicina espiritual simples: se eu estou doente terminal
na Terra e for a Mori, meio que fico “imortal” por lá. Daí, se eu voltar
aqui... PUF! Vou direto pra sepultura. Viro pó. Caio duro. Morro legal. E o contrário,
claro, também vale. O problema é que morrer na Terra tem lá suas vantagens. Tem
toda aquela pompa, tiros para o alto, recepção, choro e vela. Já em Mori...
Ah... Ninguém vai pra velório ou enterro. Nem precisa. Tem as voragens. Mais prático
do que cremação. Mais limpo que banheiro de base espacial.
Nossas doenças terrenas são fichinha se comparadas às
infecções de Mori. Um ferimento de Voragem me daria... umas 3 horas de vida. OK,
sem dramas. Você já deve ter percebido que eu consegui. Do contrário, não estaria
escrevendo essa história, certo? ERRADO! Já vi que você não entendeu NADA do
que eu falei até agora. O que é normal, para um amador. Mas presta mais
atenção, tá? Não vou explicar novamente: havia um tempo para terminar meu trabalho, limpar a
casa antes de voltar. Porque se eu não conseguisse, não poderia mais voltar para
Mori, porque estaria fraco demais e morreria bem antes de tentar me curar. Eu
ficaria fadado a viver na Terra para sempre, envelhecer e morrer como um humano
comum. Acho que chamam isso de “Purgatório”. Agora, além de estar simplesmente
na Terra, sem poder fazer tudo o que gosto, aí, já seria um “Inferno”.
Se você espera que eu faça alguma referência ao “Paraíso”,
esqueça. Isso não existe. Alias, até existe... Mas temporariamente: seria estar
nos braços da voz de veludo...
- OK, malefícios da casa! – Gritei. Porque tinha
pressa. - Aqui estou, de arma em punho, pronto para expulsá-los! Saiam de onde
estiverem, porque eu não vou dar outra chance!
- Por que faz isso, estranho? – Disse a vozinha,
quase sem força. - Nada fizemos contra você...
E, de repente, eu não sabia o que responder.
(Guilherme Ramos, 22/02/2013, 00h56. Parece que hoje, a inspiração veio mais louca do que nunca! Rsss...)
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