Chega a tarde, o calor se ratifica, o vento para. Não há muito
o que dizer. Apenas, sentir. É como num dia de chuva, durante o inverno. Mas ao
contrário. Bem ao contrário. No inverno, há uma irresistível vontade de permanecer
na cama, agarrado. Com alguém ou com o edredom. Mas agarrado. No verão, existe
o desejo de estar sob influência de um ventilador ou ar-condicionado. De estar longe
de qualquer coisa, pois o “contato” esquenta ainda mais. Seria uma estação anti-social?
Alguns acham que no verão, as pessoas se agarram mais, devido, justamente, ao clima
caliente. Quando gente precisa de
gente. Quando a gente quase se esquece da gente. Mas isso é outro ponto de
vista...
Eu me referia ao por do sol, anteriormente. Voltemos então. O
crepúsculo é um espetáculo à parte. Hoje, em minha varanda, observei-o, magnífico,
enquanto refletia minha vida, meu dia. Maiores reflexões foram as de seus raios
solares, imponentes, que pouco se importavam se meus olhos (ou quaisquer outros)
sofriam. Lágrimas, tais quais gotas de suor rondavam minha face, provando, talvez,
que eu ainda tinha um coração. E ele estava fraco, abatido, triste e enrustido,
com medo de ser e fazer o seu melhor: bombear sangue. E, a cada novo empuxo,
corriam em minhas veias algo que chamam de vida, de existência, de experiência.
Mas o que eu experimentava aqui, o que eu experienciava?
A morte do sol, para nosso olhar. Era uma morte anunciada,
prevista, repetida e tão rotineira que há tempos não a notava. Não me
importava. E, ao perdê-la, EU me perdia em mortes de pensamentos, em mortes de
opiniões e nem me importava. Numa total falta de compromisso com o amanhã, eu
apenas me recolhia à minha cama. Era noite e o dia se fora. Logo, eu deveria me
entregar aos auspícios da madrugada, dormir sem sonhar e acordar, no dia
seguinte, sem ver o (re)nascer do sol. Sim, ele ressurgia, ressuscitava dia
após dia e eu, numa total falta de preocupação, sequer notava. Percebia, pois
meus olhos e inteligência me informavam que havia novos dias e novas noites,
mas seus significados se perdiam como lágrimas no chuveiro...
Então, eu vi. Estrelas estavam ali, o tempo todo. Como olhos,
olhares. Críticos, inquisidores, a me perguntar: “o que faz aí, parado?”, “por
que não faz nada para mudar?”... E eu fechei a janela. Abri a porta da varanda
e me banhei no que poderiam ser os últimos raios de sol (do dia de hoje). E
foram. Amanhã, renovados, serão novos raios, novas energias, novas histórias. E
eu? O que serei? Mero coadjuvante do mundo ou o melhor que o mundo já viu? Essa
resposta (e tantas outras) cabe a mim responder. E viver. E mudar o que viver.
Porque como o sol, precisamos de momentos de brilho e momentos de morte
anunciada. Esse renascimento, se consciente, fará a diferença. Diferença em
novas auroras e novos crepúsculos. Porque, enquanto homem, eu nasço e renasço todos
os dias. Queira eu ou não. E, no dia que isso parar de acontecer, é porque eu
precisava transcender.
(Guilherme Ramos, 10/03/2013, 18h17. Sem mais comentários...)
Imagem: Google.
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