Era uma vez, mais uma vez, em eras...
Em dias sem fim, em noite eternas,
Uma loba voraz, de apetite insaciável,
Uma jovem audaz, de requinte impecável.
As duas competiam dia e noite, noite e dia
Para ver quem, no amor, tão logo vencia,
O desafio maior, de um homem encontrar:
Para o sexo, para a vida ou para um simples amar.
Então a criança, logo mais à tardinha,
Foi levar alguns doces para a vovozinha...
A loba, esperta, tomou a dianteira,
Seguiu pelo morro, descendo a ribanceira.
Chegou bem mais cedo, na casa da velhinha,
Surrou-lhe, prendeu-lhe, oh! Pobrezinha...
Tomou seu lugar, suas roupas vestiu,
Começou logo um plano, que no caminho urdiu.
Tão logo na cama, a loba deitou,
A jovem menina, tão logo chegou.
Ela tinha saudade da sua vovozinha
Tão alegre estava, não percebeu a lobinha
Que, aos poucos, foi-lhe convencendo
Que deveria ficar, pois estava anoitecendo.
A jovem aceitou, tudo de muito bom grado,
Nem sequer percebeu o destino sendo traçado...
Mas tudo era tão estranho, a vovozinha diferente,
Ah! Devia ser isso mesmo, ela estava doente!
A jovem, preocupada, começou a conversar,
Enquanto isso, a vovozinha, ficava só a lhe
olhar...
- Que olhos tão grandes, vozinha! - disse a menina inocente.
- São para te ver melhor, oh! Pingo de gente...
- E essas orelhas, vovó? Que tamanho de
brinco!
- Não querem mais te ouvir, você sabe o que
sinto!
- Não entendi, vovó, sua voz está tão estranha...
- É a doença, minha netinha, que me corrói a
entranha.
- Que doença, vovó? O que está
acontecendo?
- É o ciúme, netinha, que anda me
corroendo...
- Ciúme de quê, minha vó? Do que está falando?
- Ciúme de quê, minha vó? Do que está falando?
- Não se faça de besta! - gritou, só os
dentes mostrando.
- Mas que boca enorme! Nunca a tinha visto
assim!
- E nunca mais vai me ver, pirralha! Porque hoje
é o seu fim!
A lâmina do punhal, perfurou-lhe o flanco,
Rasgou-lhe o coração de canto a canto.
Foi um golpe certeiro, o que a jovem tomou.
Sem chance para esquiva, seu corpo tombou.
Ainda viu a avó, morta, ao seu lado ser colocada,
Viu sua capa, de branca, tornar-se encarnada.
Depois, só sentiu seu corpo ser esquartejado.
Nas mãos da loba ensandecida havia um machado!
Alegria insana! Loucura desvairada!
E aquela cena de horror varou a madrugada.
Enterrados os corpos, tal lembrança se apagava.
Em breve, das duas, ninguém mais se lembrava...
De seu passado, só restou a memória no espelho,
O jorro de sangue que pintou sua roupa de vermelho.
Tornando o modelo único, a povoar suas lembranças.
De que com adulto não devem se meter as crianças...
Pois o jovem caçador, homem tão desejado,
Era somente da loba e com ela seria casado.
Não seria uma jovem tola, inocente e pura
Que estragaria o desejo da mulher-loba àquela
altura.
Caso como esse, não se conta desse jeito,
precisamente,
Por isso todo livro que o conta, alguma coisa mente.
E você que fica enganado, acreditando em contos de
fadas
Saiba, agora, que existem “más coisas erradas”...
Aprenda, aqui, um pouco do que aconteceu.
E tome cuidado, pois quem lhe conta sou eu:
A loba má, que casou e teve filhos com o caçador:
Cujas histórias foram escritas em livros de valor.
Mas são outras histórias; serão contadas mais
tarde.
Afinal, toda ferida, até sarar, um bom tanto arde.
Não fica bem, na história, estragar-lhe o final,
Pois é melhor camuflar-se num corpo de “lobo mal”.
E deixar bem mais leve o assassinato cruel,
Dar-lhe veias poéticas, adoçar-lhe o fel...
Para que o duplo homicídio seja disfarçado, então.
E o que passou, passou, possa ter seu perdão.
Pois se há alguém que deve ser condenado,
É tão somente o amor, no peito da loba, o culpado.
(Guilherme Ramos, 13/12/2011, 1h20 e 15/12/2011,
23h, num rompante lúgubre de inspiração sanguinolenta. Rssss... Agora, sério:
quem foi que disse que os “contos de fadas” são do jeito que nos contaram?
Talvez eles sejam mais sinistros do que páginas de jornais policiais. Talvez
isso... ou um pouco mais! Quem sabe? Ou quem não? Bem, fica aqui, minha humilde
versão!)
2 comentários:
Mais um ano que se vai e desse jeito o tempo vai moldando nossas vidas! Hoje eu vim pra registrar boas intenções, pra vibrar positivamente em direção a um ano ainda mais feliz pra todos nós!
Que 2012 nos traga muita inspiração, muitos assuntos pra compartilhar, muito dinamismo... além de saúde, de amor, de dinheiro e fartura!
Bom natal, feliz ano novo!
Jr.
Sempre achei esta história de lobo mal, um tanto esquisita, sabe?! As histórias devem ser contatadas e recriadas de acordo com a nossa imaginação e quando se trata de imaginação vc vai longe Gui. Parabéns, muito bom!
P.S.: É bom lembrar que, toda mulher esconde uma loba dentro de si.
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