Engraçado que nunca a viu dançar. Mas tinha a certeza de que seus
passos seriam os mais incríveis possíveis. A forma como andava, como falava,
como sorria com o corpo inteiro, os cabelos soltos ao vento, os olhos
brilhantes... Enfim, um conto de fadas ambulante.
Seu corpo era firme. Pernas torneadas – segundo ela, de
nascença – cujos exercícios físicos só as valorizaram. Não fazia academia.
Somente a dança lhe bastava. Os ensaios, repetidos minuciosamente dia após dia,
buscavam a perfeição. E o coração da bailarina só batia por seu ofício. Seu
coração só sentia o ritmo da música.
Foi quando o conheceu. Ele, homem de letras, pouco exercício
fazia. Não chegava a ser sedentário, mas também não curtia academia. Preferia
caminhar. Ao lado dela. Correr, só se fosse para os seus braços. Suas risadas, ainda
mais gostosas, formavam um acorde perfeito com as dela, onde a melodia criada
era chamada amor. E viveram felizes...
... Mas não para sempre. Ela, tardiamente, descobriu-se impedida
de amar mais uma vez. Sua maior paixão – a dança – foi a única que não a
decepcionou tempos atrás. E temia por seu coração. E tremia pelo coração do
outro. Não queria machucá-lo. Não queria machucar-se. Novamente. Seu passado
foi triste o bastante, como uma queda no meio de uma apresentação. Uma fratura
exposta, cruel e sem cura. Decidiu afastar-se, fugir dos refletores. E da cena
romântica.
Ele partiu para longe. Para dentro de si. Fugiu das lágrimas
e da dor. Evitou o clichê. Trancou-se. Escreveu. Recolheu-se. Reescreveu. Desconheceu-se.
Escreveu novamente. E ficou bom. O que foi escrito. Ficar bem, ele, bem mesmo, só
com o tempo. Era preciso... revigorar-se.
Não havia raiva, rancor ou amenidades sentimentais trevosas.
Havia amor. E os dois sabiam. Sentiam. Ainda. À distância. E, sendo amor, não se
poderia forçar nada. Se era pra ser, que fosse. Ser não era, foi-se. Foram-se. Tantas
chances, ainda, de serem felizes... Mas ninguém parecia enxergar.
Ela poderia compor seus romances, seus poemas, suas aventuras
fantásticas, suas inspirações, ser sua musa, sua amada, sua amante, sua melhor amiga
e seu eterno instante. Aquele momento, quando não se pensa em mais nada e
apenas uma imagem vem à mente: eles, felizes, lado a lado, num tom – e sobretom
– sorridente.
Ele poderia enlaçá-la, abraçá-la, rodopiá-la ao som da valsa,
do tango ou do ritmo que ela escolhesse. Nem mesmo seria preciso música, pelo
simples fato dela, por si só, ser a mais importante, instigante e excitante
melodia que a sua vida já presenciou. Então, (re)pensou:
- Dança, mais uma vez, comigo?
(Guilherme Ramos, 29/04/2013, 18h.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
Imagem: Google.
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