Eles estavam se
encontrando há algumas semanas. Nada muito avançado. Mas parecia promissor.
Ela, descolada, simpática, inteligente, bom papo; ele, intelectual,
extrovertido, sonhador, bom partido. Ambos, tinham qualidades e defeitos que
muito bem poderiam se adaptar, caso quisessem um caso particular. E parecia que
isso iria acontecer cedo ou tarde. A “ligação” entre eles parecia perfeita.
Ela tinha um passado
sentimental nebuloso. Falava pouco dele. Para ele. Mas se despia de outros
assuntos sem nenhum pudor, numa quase confissão ou sessão de terapia. Ele era
bom ouvinte. Ela adorava. E a cada instante se aproximava dele como uma
mariposa à luz.
Ele tinha um passado sentimental
instável, repleto de chuvas e trovoadas. Mas avistava uma potencial bonança na
presença dela. Ele – quase – voltava a acreditar no amor-amizade, quando duas
pessoas tornam-se muito amigos, mas um sentimento maior e mais mágico se
apodera da razão de ambos, atingindo seus corações em cheio, numa descarga
elétrica capaz de matar qualquer insensibilidade e permitir o nascer da paixão.
Mas o tempo passa e faz
pirraça, dizem alguns sábios de humor negro. Numa noite qualquer, ele passava
por perto da casa dela e pensou em fazer uma surpresa – como ela já o tinha
feito numa outra manhã. Telefonou. Achou educado, pois sabia que ela tinha
saído com uma amiga e que poderia ainda não ter chegado.
- Alô? – Disse outra voz
feminina do outro lado.
- O-oi! – Estranhou. –
Você é...
- Oi! Não, não! – Um
sorriso simpático interrompeu sua frase. – Ela está me levando pra casa, depois
é que ela vai pra casa.
- Ah! Tá! – E também
riu. – É que estou bem pertinho da casa dela. Vou esperá-la então. A gente
terminou se desencontrando, hoje.
- Tá certo. Eu digo a
ela.
E desligaram. Não havia
se passado 5 segundos, seu celular toca. Era o número dela.
- Oi! – Atendeu ele,
feliz.
Do outro lado, apenas
uma conversa:
-
... E ele disse que ia ficar esperando perto da sua casa.
-
E foi? Ah! Se eu passar e ele estiver com o carro parado na minha porta, eu
passo direto!
Ele engoliu em seco.
-
Quer saber, amiga? Eu acho que não vou pra casa agora não. Vou ficar um pouco
na sua casa.
Ele queria desligar.
-
Amiga... Se você começar a namorar esse cara e deixar de sair...
-
EU? Eu não deixo de fazer isso nunca!... Eu...
Ele desligou. E
respirou fundo. Mil coisas passaram em sua cabeça. Mas não quis continuar.
Conhece um sem número de pessoas que escutariam a conversa até a bateria de um
dos celulares descarregar. Mas ele não. Ele já passou por muita coisa. Assim
como ela. Ele não queria se decepcionar mais. Assim como ela. Ele já havia
escutado demais. Não apenas a conversa, mas seu coração. Era hora de usar a
cabeça. Tantas vezes esquecida.
Ela não saberia o que
aconteceu. Ou porque ele sumiu de sua vida. Ele não é mais do tipo que faz
escândalos. Não é vingativo. Mas é humano e pode ser ferido mortalmente. Era
hora de recolher o restante de suas forças e seguir em frente. Porque se isso
aconteceu, é porque algo melhor está por vir. Alguém melhor.
O Destino é um estranho
desconhecido com senso de humor duvidoso. Mas não faz nada por fazer. Se isso era
o que tinha reservado para ele, ele iria receber. De abraços abertos. Sem
raiva. Sem mágoa. Sem rancor. Libertação é libertação. E sempre dói um pouco.
Mas é para o bem. De alguém.
Ele apenas se preocupou
com outros relacionamentos que estão por vir. Os novos flertes, as novas
paixões, os novos casos. A cada nova decepção, menos dele – de seu íntimo – elas
teriam. Talvez ele seja apenas “mais um” na vida delas. Sem nenhuma pretensão
de ser especial.
Assim como ela nem
chegou a ser na vida dele. Por sorte ou azar – isso depende muito do ponto de
vista – de uma ligação de celular.
E, assim, mais um sonho
se desvanece. E a cada nova “ligação” seu coração fica fora da área de
abrangência. Ou temporariamente desligado...
(Guilherme Ramos, 06/10/2013, 23h08.)
Imagem: Google.
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