Adorava arte. Teatro, música, cinema, livros, exposições...
Toda e qualquer manifestação artística lhe interessava. Não perdia nada. Por
nada. Era noite e dia, sempre naquela agonia: “antes arte do que nunca”. Sobre
arte, inclusive, vivia dela. Professora. E desenhava, escrevia, dançava,
pintava aquarelas, fazia oficinas de teatro, música, audiovisual. Não tinha
tempo para bobagens. As bobagens, no entanto, a perseguiam. Mas ela, com
maestria, se desvia, se desvia, se desvia...
Quantas mulheres que você conhece assistem à TV Cultura? Escutam
a Rádio Educativa? Em casa, no trânsito, onde for possível, lá está ela, sintonizada.
As outras emissoras de TV e rádio parecem não existir. E, se olharmos
conceitualmente, no seu caso, não existem. Por isso, a paixão – pela arte – só
aumenta mais. Por isso a paixão – por ela – de um homem à parte, era um misto
de platonismo, amor cortês e utopia.
Mas os dois (se) queriam. Que ficasse assim, lindo. Limpo.
Límpido. Diferente da ideia de amor vendido pelas mídias em geral. O amor
carnal, mero carnaval, estação propícia à reprodução da espécie, de espécie
alguma interessava aos dois. Não queriam apenas “comer”. Não era esse tipo de
relação, arroz com feijão, que queriam. Era um abraço, aumentando o laço. Um
afago, deixando a tristeza de lado. Um aceno, tornando o tenso mais ameno. Um
sorriso, fortalecendo o compromisso. Um sexo, com nexo – e não, complexo.
Mas ela precisava de um tempo solitário (e solidário) para
si. Queria-se por perto. Sem mais ninguém. Isso já era companhia demais. Uma verdadeira
multidão. Um estouro de boiada. Porque sua cabeça latejava de tantos problemas.
Sim, ela também os tinha. Era humana. Mediana. Comum, apesar de tantas
qualidades. E, como tal, precisava rever alguns conceitos. Desnudar-se.
Desacorrentar-se do passado assombrado que a perseguia – as tais bobagens – e livrar-se
dos pesados grilhões da sua insegurança.
Poderiam perguntar: como
alguém assim, tão independente, pode ter insegurança? A resposta poderia
ser qualquer uma. Porque certas regras não se aplicam a todas as situações. E
cada um deve lidar com seu fardo. Ela tentava. E não criava expectativas. Não contava
com a compreensão de ninguém. Se a obtivesse da pessoa certa, seria lucro. Se
não, evitaria novas frustrações. Simples assim.
E vivia. Um dia por vez. E a cada respiração, sabia que seu
dia chegaria. Porque como qualquer pessoa que se preze, em meio a tantas coisas
para pensar e fazer, havia uma meta que não abriria mão por nada desse mundo: a
felicidade. De ser ela mesma. De fazer o que queria. De amar quem quisesse. Ou
não. Sem regras. Sem imposições. Sem frustrações. Apenas amor. Porque esse
sentimento é mais do que vendem em bancas de jornais. É mais do que pregam
pelas esquinas. É mais do que podem explicar num poema, conto, novela ou
romance.
Amor é verbo to be.
É Ser/Estar. Bem. Com ou sem alguém.
E, além disso, tinha a arte. Ao seu lado. Fiel. Amável. Confiável.
Inabalável. Como ela mesma se deixava transparecer.
Algumas vezes, até mesmo sem ser.
(Guilherme Ramos, 05/05/2013, 21h41.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
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