Ela o amava. Ele a amava. Mas ainda eram "jovens demais
para a adolescência". Coisa de criança, sentimento de adulto. Como
explicar essas coisas? Não se pode. Só se sente. E isso eles faziam muito bem.
Conheceram-se numa festa junina, em meio a fogos, comidas
típicas e o cheiro de fumaça das fogueiras – que se espalhavam a cada metro
quadrado nas ruas, espalhando uma estranha e etérea beleza.
No início, ele nunca lembrava seu nome. Perguntava a cada
instante. A um e a outro. Só se lembrava da menina loira, que dançava
quadrilha, sorria alto e estava sempre de bom humor. Ela, ao contrário, sabia
seu nome completo, apelido, o que ele fazia, o que ele gostava e o que eles fariam.
Namorar.
E namoraram. Escondido. Como todo namoro adolescente que se
preze. Mas quase todo mundo sabia. Menos os pais dela, claro. E foram felizes –
dentro do possível – por um bom tempo, até os pais dela descobrirem. Daí foi
aquele drama: ela ficou em casa, ele ficou na rua; ela ficou chorando, ele tentando
não chorar; ela escrevia cartas de amor, ele histórias de amor. E, assim,
passaram uns tempos separados.
Quando se viam, era uma alegria contida. Os olhos se enchiam
de lágrimas, as bocas escorriam sorrisos, os suspiros eram tão fortes que
roubavam o ar dos demais. Mas a asfixiante sentença materna, “vocês não podem
namorar” extinguia qualquer possibilidade de vida. A dois. De reencontro. E o
namoro virou um sonho.
E cada um seguiu seu rumo. Cresceram. Estudaram. Formaram-se.
Empregaram-se. Casaram. Tiveram filhos. Separaram-se. Viveram. Reencontraram-se.
Falaram-se. Riram. Lembraram-se. Riram – ainda mais. Saíram. Dançaram. Divertiram-se.
Refletiram. Riram – muito mais. Despediram-se. Voltaram para casa. Pensaram.
Repensaram. Racionalizaram. Definiram. Sorriram. E suas vidas, mais uma vez,
seguiram. Cada um para o seu lado. Na paz. Nenhum certo. Nenhum errado.
O que houve, houve. Não havia mais razão para sonhar. O que
deveria ser feito, foi feito. Nunca iria mudar. E o amor, que antes foi
perfeito, não caberia mais naquele lugar. Virou amizade. Forte e nunca iria
mudar. Porque é a amizade, que todo casal deveria se apoiar. Porque
relacionamento, sem ela, um dia pode ter seu fim.
Ele disse: “Foi assim comigo”.
Ela disse: “Também foi
pra mim”.
A sorte deles foi ter um ao outro como amigo. Ao invés de
sofrerem – e brigarem – pensando no próprio umbigo. Competindo para saber quem
tinha o grau máximo da dor de não ter sido um casal. Como uma história sem
prazer, que no fim, acabava mal. Foi melhor assim. Um final, sem fim. Onde cada
um poderia se lembrar do que mais gostou. Platônico. Evitando o sofrimento de
morrer pela boca, reclamando da falta de amor. O que, na maioria das vezes é
bastante constrangedor.
Porque não é assim que acaba toda
história? Não na literatura, mas na vida real. Pois mesmo estando junto, alguém
no fim sempre se vai. E, indo – para ali ou para o além, sempre leva um pedaço de
nós. Seria por causa disso (finais e começos são uma questão de livre arbítrio)
que tantas pessoas decidem ficar... sós?
(Guilherme Ramos, 20/05/2013, 13h15.)
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]
Imagem: Google.
1 comentários:
Conto que começa com adolescentes, sério? Tô passada! Estava achando que isso era ossada minha. kkkkkkkkkkkkkkkk
Acho que é bem por isso que as pessoas decidem ficar só. É bem mais fácil estar só, contudo não é nada emocionante. Mas há sempre uma escolha.
Ótimo texto!!
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