segunda-feira, 20 de agosto de 2007 1 comentários

Separação

Ele era do tipo de pessoa “só”.
Cercada de gente, claro, Mas... só.
Explico: “Acostumado com separações”.

Seus avós, moravam juntos...
(Mas viviam separados)
Dormiam em dois quartos.
(Isso devia ser muito chato)

Seus pais são separados.
(isso, sim, foi muito chato)

E ele... Bem,
Viveu a adolescência inteira
Separando-se aqui e ali...
(Nem sempre de vez em quando)
De namoradas que (sequer) existiam.

Enfim, fim.
Amou muito;
Amou demais.

E como um espelho,
Só restou ao fedelho
Uma “reflexão”:

Separação
Separar são
Separar ação
Se parar a ação...


(Guilherme Ramos, 28/07/07, 10h30; concluído em 20/08/07, 22h54)
2 comentários

Conjugando o Amar

Não vou dizer (quase) nada. Não precisa. Simone Salles diz tudo. Quero deixar registrado, apenas, que graças a minha amiga-gata-maracajá Luciana Pessoa, essa "pérola literária" pôde ser postada neste blog. Obrigado, Lu!

Boa leitura!

Ah! Eu também "Amo-Amando" (apesar de tudo...)

Bem, é isso.

* * *

(por: Simone Salles)

Eu amo. Tu amas. Ele ama. Nós amamos. Vós amais. Eles amam. Amar é isso. Verbo a ser conjugado em todas as pessoas, mas num só tempo: o presente do indicativo. Jamais no passado. Nunca no futuro. Sejam quais forem as formas de conjugação. Muito menos no condicional. Subjuntivo e particípio devem ser banidos. Ideal mesmo é conjugar Amar, sem pudor, valendo-nos do gerúndio. Amando. Assim - simples, nominal, verdadeiro. O verbo-sentimento Amar basta a si mesmo. Dispensa complementos, prescinde de adjetivos.

Amar é tudo. Verbo-sentimento sublime. E, por ser assim, não deve ser dito levianamente. Sagrado, merece reverência. Nada de usá-lo indevidamente, como bordão ou gíria. Sacrilégio incluí-lo numa frase banal, prosaica. Amar não é modismo, independe de tendências e estações. É perene. Âmago do ser. Imprescindível ao Homem. Dói-me a alma ouvir um "Amo esse carro", "Amo essa roupa", "Amo esse móvel". Só ímpios cometem tais blasfêmias! Para esses rogo por clemência, tornando minhas as palavras Dele. "Pai perdoai-os. Eles não sabem o que dizem".

"Amar, verbo intransitivo", disse Drummond em um de seus mais lindos poemas. Certo. O verbo é intransitivo. O sentimento, porém, é transitivo e transigente. Amar-Amando é a reciprocidade, tácita, de concessões e renúncias. Quem ama cede e concede. Releva. Perdoa. Porque o Amar-Amando é obra edificada sobre carícias de "deixa p'rá lá", "esquece", "não liga", "não foi nada", "tudo bem". Frases sussurradas em meio a sorrisos ternos, sinceros. Amar-Amando é doação. É cumplicidade. Entrega deliberada e consciente. Portanto, não cabe cobranças ou imposições. Sob pena de ceifar do verbo-sentimento seu significado mais profundo, não é recomendável conjugá-lo no imperativo afirmativo.

Quem Ama-Amando não ordena. Não determina. Não manieta. Não obriga. Não avilta. Não violenta o amado, ao recusar-lhe o direito de ser o que é, como é. Quem Ama-Amando respeita. Admira. Compreende. Amar-Amando não é subserviência. É aquiescência. Não é anulação. Não é invalidação de si próprio ou do outro. É reconhecer defeitos e virtudes, sem constranger o parceiro a tornar-se a materialização de utopias amorosas ou fantasias neuróticas de perfeição. Amar-Amando é a aceitação plena do indivíduo que amamos. É a permanente e silenciosa busca do equilíbrio, do encontro, do consenso - mesmo que utópico. Amar-Amando subverte até a aritmética. A soma de 1 + 1 terá sempre como resultado o número 3. Pois é absolutamente necessária a plenitude do eu e do tu para que o nós exista.

Peca quem, na tentativa equivocada e vã de agradar o amado, abdica de sua individualidade. Criminoso quem se arvora em deus e tenta - algumas vezes com sucesso, pois abusa da fragilidade alheia - transformar o outro na personificação de seus desejos. Ao conseguir seu intento, desama e renega a própria criação. A criatura, por sua vez, num súbito lampejo de consciência, ao desconhecer-se, desama e despreza o criador. É o assassínio bárbaro do Amar. Crime brutal. Hediondo. Sem direito à regalia ou indulto. Como amar e ser amado-respeitado pelo outro se não amamos-respeitamos a nós mesmo e ao outro? Tão fácil, mas superficial e falso, é Amar por causa-de. Difícil, mas verdadeiro, é Amar apesar-de.

Apesar de discordarmos quando o tema é polêmico. Apesar de irritarmo-nos com a forma, intempestiva ou excessivamente cautelosa, com que ele age em momentos decisivos. Apesar de diferirmos no modo como demonstramos esse amor - um é silêncio e gestos, o outro é palavra e dengo. Apesar de divergirmos nos gostos - um quer Almodóvar, o outro prefere Tarantino; um quer comida italiana, o outro prefere sushi. É não fazermos perguntas desnecessárias, nem anteciparmos respostas. E, sobretudo, apesar de não gostarmos de certas peculiaridades do amado. Mas compreendermos, que elas são partes indissociáveis dele. E é justamente esse conjunto, que o torna tão especial para nós, único dentre os bilhões e bilhões de humanos que povoam o planeta. Amar-Amando é isso: respeitar as diferenças e permitir que as semelhanças sobressaiam.

O gostoso de Amar-Amando é sentirmos prazer nas coisas mínimas. Vermos poesia nos fatos e gestos triviais do cotidiano. Sermos tomados por uma alegria calma ao ouvir seus passos. Intuirmos seus movimentos e ter a alma invadida por uma indefinível sensação de paz. Ignorarmos os traços assimétricos de seu rosto e descobrirmos beleza no jeito como arqueia as sobrancelhas, numa muda interrogação. Sermos seduzidos, diariamente, pela forma como ele se move pelo mundo. Encantarmo-nos com seu modo - para nós, especialíssimo - de acender o cigarro e expelir a fumaça. Conhecermos seu hábito de correr os dedos pelo cabelo. E, mesmo assim, surpreendermo-nos com a beleza mansa do trejeito, a cada vez que o gesto se repete. É ouvirmos o que diz quando cala e o que não diz quando fala.

Amar-amando passa sem a presença física do Amado, pois sua imagem está impressa na lembrança. Sem ser obsessão, é para ele o primeiro pensamento do dia e a última oração da noite. É pularmos da cama felizes apenas por saber que ele existe e vive. Perto ou longe. Que importa? É flutuarmos sem tirar os pés do chão. É termos a cabeça nas nuvens, sem com isso perdemos a perspectiva da realidade. Sentirmo-nos plenos, absolutos, diante de tudo e de todos. É acreditarmos, mesmo que as circunstâncias digam o contrário, que há sempre solução para os problemas. E que, para alcançarmos o que desejamos, basta perseverar. É ter uma inabalável fé Nele, em nós, na Humanidade. Amar-Amando é a ausência de expectativas mirabolantes. É obter satisfação no sentir pelo sentir. É saborearmos a felicidade em pequenas doses diárias. Homeopáticas. Terapêuticas. Revigorantes. Enfim, é estar de bem com a Vida e amá-la sem restrições.

Confesso: eu Amo. Amo-Amando.

Como admitiu Vinícius de Moraes, em "Escravos da Alegria":

- Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.
quarta-feira, 15 de agosto de 2007 0 comentários

Insomnia

Alguns devaneios de Guilherme Ramos e Lima Neto, dia 15/08/2007, às 21h15, baseando-se em ditos (não tão) populares de domínio público...

E adivinha onde vamos usar? Rssssssss...

A estréia é em 25/10/2007!


* * *

INSOMNIA


Insominia
Insamnia
Omnia fert aetas

Mensura omnium rerum optima
Tempus longum vitiat lapidem
Cito pede labitur aetas
Dies posterior prioris est discipulis
Fugit irreparabile tempus

Insominia
Insamnia
Omnia fert aetas

Somnus est frater mortis
Improba vita, mors optabilior
Vae mortuis!
Omnia cinis aequat

Insominia
Insamnia
Omnia fert aetas

Bonum erat si non natus non fuisset homo ille
Parce sepultis
In nocte consilium

Insominia
Insamnia
Omnia fert aetas

* * *

INSÔNIA

Insônia
Insânia
O tempo tudo traz

Tudo na vida quer tempo e medida
Pois tudo passa sobre a terra
O tempo voa
O tempo é mestre
O tempo vai e não volta

Insônia
Insânia
O tempo tudo traz

O sono é parente da morte
É melhor uma boa morte do que uma ruim sorte
Triste de quem morre!
Porque a morte tudo nivela

Insônia
Insânia
O tempo tudo traz

Melhor seria se não tivesse nascido
Mas, enterrado, perdoado.
Pois o travesseiro é o melhor conselheiro

Insônia
Insânia
O tempo tudo traz

* * *

Bem... Latim não é nosso forte, mas... A melodia está ficando muuuito legal... Rssssss.... Vamos ver no que dá!

Detalhe: são 24 versos... um para cada hora dos dia. Mais simbólico, impossível! Rssss...

Evoé, Baco!
 
;