quinta-feira, 20 de março de 2014 0 comentários

Amor-Produto


Estou precisando amar de novo. Mas aquele amor que tudo vale, tudo faz e tudo consegue. Não esse sentimento-produto que vendem nas lojas de conveniência. Esse tem validade curta, possui estabilizantes, acidulantes, corantes e substâncias nocivas não só ao corpo, mas também à mente, à alma e às emoções.

Preciso de um amor natural. Homeopático. Porque de amor alopático, antipático, antiprático, o mundo está cheio. Cansei de consumir amores-outdoors, amores-revistas, amores-reportagens, amores-entrevistas, amores-fachadas, amores-desamores, amores-sem-amores, amores-pagos, amores-tragos, amores-goles, amores-delivery, amores-viciosos, amores-não-amores, amores-manipuladores, amores-e-suas-dores. Enfim, tudo que há de maior demanda e preço baixo, sem a menor intenção de qualidade ao consumidor.

Mas quem quer servir amor? Consumir amor? Degustar amor? Digerir amor? O amor-produto só me deixa em luto, cada vez que passa por mim. É atraente, beneficente, benevolente, mas pode ser incoerente, indecente e indolente. Não é amor. É até um falso-fazer-amor. Manufatura sentimental resultante de trabalho escravo. Onde apenas um lado se beneficia e o outro só se humilha em prol da própria subsistência.

Nesse mercado agoniante e agonizante, lucra o empresário-amante que domina o jogo. A sedução se faz como um comercial de bebida. Como uma propaganda de comida. E atrai mais e mais seguidores nas redes sociais. Curtir alguém, compartilhar alguém, comentar sobre alguém é mais importante que amar alguém. Por que amor virou mercadoria. De péssima qualidade. Quem quer comprar algo que se desvaloriza com o passar da idade?

Quando eu era criança, amar era o objetivo de mais da metade do mundo. Mas as crianças cresceram e não querem mais esse brinquedo. Querem ser adolescentes da infância e adultos na adolescência. Suas vidas tem pressa. Sua pressa tem sede. Tem fome. Tem desejo. De consumir uns aos outros como a si mesmos. Sem sobrar nada para nenhum dos envolvidos.

Houve um tempo que amar era a coisa mais importante do mundo. Nesse tempo, o amor era artesanal. Cada peça era feita manualmente, por pessoas capacitadas pelo notório saber. Mestres do amor e do amar, distribuíam suas obras de arte sem restrições e, a cada nova venda, doavam seus lucros para os mais pobres. O que era uma atitude das mais nobres.

Assim era o amor em tempos de glória. Uma glória esquecida e coberta por anúncios de jornais – que vendem corpos e almas a prestação e cartões de crédito. O financiamento do corpo tornou-se a mais nova moeda de troca. Troca-se um não-sentimento pelo não-comprometimento. Troca-se um breve momento, por lembranças falsas e fúteis do desejo realizado apenas por realizar. Um transar por transar.

Em suma: o amor-moeda desvaloriza e a inflação-solidão domina amantes do primeiro ao terceiro mundo. Porque – ninguém se engane – ninguém vive sem amor. Tal qual água, direto da fonte, o amor é livre para ser provado. Conscientemente. Consumido predatoriamente, aleatoriamente, discriminadamente, qualquer poça, poço, oásis, rio, seca. A vida vira deserto. As cidades-relacionamentos construídas ao seu redor, são abandonadas. Viram cidades fantasmas. Seus cidadãos deixam de existir, por mais que estejam vivos. Tornam-se nômades deles mesmos.

Haverá um dia que o êxodo emocional será eminente. Ninguém nutrirá sentimentos, para não sofrer. Virão geadas, tempestades e outras intempéries sentimentais até sua extinção antinatural. Os hormônios artificiais acabarão com a libido e tudo não passará de teorias científicas desacreditadas pela ciência.

O amor deixará, finalmente, de ser produto para ser apenas teoria. Mas pouco aceita na academia. O amor será objeto de estudo. Apenas isso. Até que nem isso. O amor será apenas uma palavra. Quatro letras. Sem nenhum significado. O amor será uma lenda, uma história, um pecado. Uma fruta. Proibida. À disposição. Uma tentação. De proporções bíblicas.

Até que alguém precise amar de novo...


(Guilherme Ramos, 20/03/2014, 01h08.)

Imagem: Google.
sábado, 8 de março de 2014 0 comentários

Feliz ANO TODO DA MULHER!



Então, Feliz ANO TODO DA MULHER!
Porque são 365 dias de glórias e conquistas. 
E vocês (apenas) merecem.

Minha singela homenagem às amadas-amigas...
Sem me esquecer, também, das desconhecidas!


(Guilherme Ramos, 08/03/2014, 10h35.)
Imagem: Google.
 
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