“Há males que vem para o bem.”
A frase é velha conhecida do (domínio) público. Seu uso, é irrestrito e, por vezes, funciona.
Hoje, eu a utilizo para o fenômeno post mortem Michael Jackson (1958-2009). Ok, ok, ok... Sei que todo mundo está falando nele, mas... não posso deixar de registrar – aqui – uma (curiosa) realidade local.
Não foi apenas o comércio formal de CDs/DVDs que se beneficiou da fatalidade para vender álbuns do astro pop. No Centro de Maceió/AL, os “comerciantes de mídia genérica” tocam e comercializam, em barracas/carrinhos no meio da rua, a MPPB (Música Pra Pular Brasileira) – sonoridade bizarra que a cultura de massa insiste (e consegue) chamar de “música” – forçando-nos a escutar acordes malditos, solos apavorantes e refrões hediondos. Pois não é que após a morte do cantor americano, passou-se a tocar algo que parecia impossível em nossas manhãs e tardes?
“Ben”, “Thriller”, “Billie Jean”, “Human Nature” et all tocam diariamente, insistentemente, desde 26 de junho – meio que desinfetando nosso cotidiano e aliviando a aflição de pessoas como eu que não podem pedir para os ambulantes desligarem seus equipamentos de som (quase trios elétricos), visto que a rua é pública...
Agora, “graças” (ops!) “devido” ao falecimento do cinquentão com síndrome de Peter Pan, eu posso andar na rua mais tranquilo, como se estivesse em algum lugar (um pouco mais) civilizado, por vezes cultural, como um verdadeiro centro de cidade que se preze deveria ser.
Pena que – tenho certeza – daqui há algum tempo, tudo isso desaparecerá, dando lugar ao TOP TREVAS de sempre. Isso me lembra um outro ditado:
“O que é bom, dura pouco.”
A menos que, por alguma "maldição", essa história de morrer – e vender mais e mais discos – vire moda e tenhamos uma maratona multimídia no Céu e na Terra. Já pensou? Ouvir Madonna, Elton John, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque (e tantos outros) no meio da rua? Não que eu deseje a morte de ninguém, mas... é fato:
“Há males que vem para o bem.”
(Guilherme Ramos, 03/07/2009, 22h10)