quinta-feira, 30 de maio de 2013 0 comentários

Sobre Poesia e Dinheiro


“Poesia não dá dinheiro.”

(...)

É. As reticências acima são para você pensar. Eu ainda estou pensando.

(...)

Não sou eu que afirmo isso. É a tendência do mercado editorial brasileiro. Já li, já escutei, já repeti – e escrevi essa frase, talvez, por não querer acreditar nela.

Analisando friamente, o que pode dar grana é romance, livro de contos, crônicas... Não poesia. A menos que você seja uma celebridade já consagrada e, de repente, apinhe um monte de palavras, atribua-lhes o gênero “poesia” e as publique em um livro – usando mais sua imagem e influência do que talento literário propriamente dito, isso é quase sempre um mito.

Outra coisa a se pensar: será que eu quero – apenas – ganhar dinheiro com a poesia? É certo que podemos e devemos ser remunerados por nosso trabalho (e escrever é um ofício como qualquer outro), mas daí pensar só no lucro literário... É decepcionante. O resultado será uma obra pré-fabricada, tendenciosa, contaminada pelo vil metal. Nem sei se quero isso. Princípio básico, gente: quem escreve, quer ser lido! Simples assim. Ser remunerado por isso, é conseqüência e justiça.

Tenho consciência de que existem autores – nem tão consagrados – que tem público para suas poesias. E desejo que eles se multipliquem. Mas eles são as belas exceções. Deus os proteja da má mídia. Aqui, falo das regras. Nem tão boas assim. Mas não quero estar certo ou errado. Esse texto está mais para um desabafo, que para pretensões literárias. Obrigado por me ler-escutar. Refletir e contribuir para a difusão de nossa literatura, um objetivo nobre. Meu país agradece.

Ah! Mas felicidade também não dá dinheiro.

(...)

(...)

E eu quero ser feliz do mesmo jeito...


(Guilherme Ramos, 30/05/2013, 12h47.)

Imagem: Google.
segunda-feira, 27 de maio de 2013 0 comentários

Simplicidade



Em mim, quando bate a saudade,
Pontual tal qual relógio inglês,
Bate uma imensa vontade...
De estar (de bem) com vocês.
Sim! Com você... e o amor.
Mas, simplicidade acima de tudo.
E paixão. Muita. Por favor.

(Guilherme Ramos, 27/05/2013, 13h55.)

Imagem: Google.
domingo, 26 de maio de 2013 1 comentários

Abstinência



Achava que fez a escolha certa. Da sua turma, foi-se afastando meio sem querer. Sentia falta de alguns amigos, mas as circunstâncias – álcool, baladas, beijos, corpos nus e poucos orgasmos – não satisfaziam mais. Vinham fáceis. Iam fáceis. Nem sempre voltavam.

Seu coração ficava cada vez mais frio. Tão frio, que o sol das paixões não o aquecia mais. Amornava, às vezes; evaporava, às vezes; requentava, às vezes. Tantas vezes. Mas quase nunca entrava em ebulição.

Culparam o início de namoro. Essa mania que a gente tem de abandonar os amigos quando se apaixona. Bobagem. Nem relacionamento tinha. Mas não negou. Mentir. Para não doer – tanto – seu afastamento. Deixar amigos de lado temporariamente é meio cruel. Mas necessário. Para que pudesse ser sua própria amiga por uns tempos.

A reclusão não foi fácil. Telefonemas insistiam em convidá-la para sair. Mensagens de texto tentavam mudar sua opinião. E-mails questionavam sua escolha. Redes sociais divulgavam possibilidades. Mas ela não se abalou. Desligou todos os eletro-eletrônicos. Arrancou-lhes as tomadas. Não queria viver em stand by. Queria paz. De espírito. E muito mais.

E foi o que teve. Incrível, a sensação. De desintoxicação. De libertação. De tudo. Não leu mais. Jornais. Apenas livros. Clássicos e atuais. Não queria saber de verdades pré-fabricadas pela mídia. Não queria saber – mais uma vez – quem morreu, quem matou, quem roubou, quem foi preso, quem foi solto, quem foi mocinho mas virou bandido. Queria saber de si. Da sua contribuição para o mundo. Quase não queria mais sair dela.

Até chegarem as cartas. Cartas. Quase não lembrava mais delas. Pelo correio, chegavam apenas publicidade, contas... e mais contas. Mas... cartas? Nossa! Isso era diferente. Quem ainda se utilizaria de um meio de comunicação tão raro? Quem seria tão incomum? Inovador? Incrível? Quem se importava em comunicar ao outro o que sentia, suas palavras, suas idéias, tantas coisas... num papel?

Sentiu-se novamente criança, recebendo um presente surpresa. Não perdeu tempo. Abriu as correspondências.

“- Fé na fábula”, diziam. Todas. Apenas isso. Eram de uma amiga. Que há tempos desapareceu, sem deixar vestígios. Como ela tentava fazer. Só que bem feito, numa completa abstinência de gente. Eis uma pessoa que sabia das coisas. Eis alguém que valeria a pena conviver, conversar, compartilhar.

Havia um endereço. Havia tempo. Havia curiosidade. Não havia medo. Não havia empecilhos. Não havia má vontade. Fez as malas. Trancou a casa. E se foi. A pé mesmo. Assim teria mais tempo para pensar.

“- Fé na fábula”, lembrava. “Essa, sabia das coisas”, pensou. Agora era a sua vez. Porque de realidade já tinha (sobre)vivido muito. E perdido tempo. Era hora de sonhar.


(Guilherme Ramos, 26/05/2013, 14h36.)

[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]

Imagem: Google.
sábado, 25 de maio de 2013 0 comentários

Banquete


Sei, na paixão, das suas fomes e sedes.
Quando sou seu prato feito, a degustar.
Permiti isso, algumas dezenas de vezes,
Resistindo forte para não lhe machucar.

Resistência de garfo; de faca, argumento.
Sobraram as poucas palavras... de colher.
Submissão de prato; de copo, sofrimento.
Estamos diante da mesa: homem e mulher.

Saciados do desejo, quase carnal, de viver,
Correr para o chuveiro, para à cama comer
Tudo, no mais completo e adorável absurdo.

Diria que tal banquete é um autorretrato.
Completo. Sinônimo. Composto. Abstrato.
Sem palavras... Cego... Mudo... Surdo.

(Guilherme Ramos, 25/05/2013, 00h35 e 21h26)

Imagem: Google.
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Sem pressa


 

Não. Não quero mais drama.
Sim. Quero você, na cama.
Seja um pouco mais. Esperta.
Vem. Que tem. E me aperta.
Não. Sem essa, de rotina.
Seja mais louca, desatina.
Querer, eu te quero. Mais.
Sentir não ofende. Jamais.
Só não fique nessa. Assim.
Vem. Sem pressa. Para mim.

(Guilherme Ramos, 24/05/2013, 13h15.)

Imagem: Google.
sexta-feira, 24 de maio de 2013 1 comentários

A Sonhadora



Era uma sonhadora. Das boas. Do tipo que sonha acordada, sentada, deitada e – até – dormindo.

Sonhos, tinha aos montes: conhecer os cinco continentes (principalmente a Oceania), escrever livros (enfim, escrever todo dia), namorar antes de casar (muito mesmo – por que não faria?), conhecer um cara legal (perfeito, não precisaria), ter um filho (sua melhor companhia)... E outros tantos. Mas tudo tinha que obedecer a essa ordem, natural para ela. E nunca abandonar os sonhos. Sua prioridade absoluta.

Um deles, no entanto, sabia que não iria acontecer. Nunca. Mas não queria pensar nisso. Estava ocupada demais em ser feliz para se preocupar. Era preciso viver. Bem. Mais. Porque muita gente deixa de viver – e sonhar – para pensar em problemas. Louco, não? Mas é mais comum do que se imagina. Pessoalmente, ela conhecia uma nação inteira.

Viajou. Conheceu ruínas antigas, cidades desconhecidas, pessoas estranhas e lugares exóticos. Vivenciou novas culturas, lendas, crendices, cretinices e gentilezas. Emocionou-se com ações, reações, revoluções e procrastinações. Adoeceu, recuperou-se, quase morreu e se encontrou. Na mais íntima – e quase ínfima – parcela do seu amor. Próprio.

Escreveu. Foram tantas viagens, tantas experiências, que a necessidade de registrá-las tornou-se irrecusável. As palavras vinham como o oxigênio que respirava – uma questão de sobrevivência. E, fluentemente, construiu a mais bela obra da literatura contemporânea.

Namorou. Muito. Muito mesmo. Depois, muito o mesmo. Não conseguiu gostar de outro. Somente ele a satisfazia. Principalmente porque não vivia no seu pé. Deixava-a livre, tão livre, que quase podia voar. Por isso mesmo queria voltar logo para aqueles braços e para os abraços apertados. Ele era a lâmpada, atraindo a mariposa, feito de luz e calor. Descobriu, de forma despretensiosa, que conheceu o cara mais legal do mundo. Era amor para a vida toda.

Casou. Mas cansou. E mesmo querendo continuar casada, achou que tudo aquilo era como uma gripe: debilitava, doía, tirava o sono, mas... passava. Daí, surpreendeu a todos, todas e a si mesma: resolveu separar-se. Mas continuou com o ex. Marido. Porque continuaram namorados. E fazendo dar certo. Deu certo.

Tiveram um filho. Ponto. Pronto. Sem mais palavras. Essa alegria não pode ser expressa como merece. É uma grandeza para ser vivida, não narrada. Era um mundo inteiro, não apenas uma estrada.

Mas... E o sonho irrealizável? Por que era irrealizável? Isso era só dela. De mais ninguém. Se contasse, confessasse, compartilhasse, talvez algo ele se tornasse. Mas não era a intenção. Ter sonhos inatingíveis ajuda a impor limites. Depois de tanta vida, ser “imortal” tornou-se completamente possível. Não é isso o que nos tornamos nas lembranças de quem fomos mais presentes?

E ela sempre – e para sempre – foi do mundo.

(Guilherme Ramos. 24/05/2013, 19h08.)

[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]

Imagem: Google.

quarta-feira, 22 de maio de 2013 0 comentários

Dúvida



Estive pensando:
Vale a pena...
Continuar escrevendo?
Escrever para que(m)?
Se quase não tem
Alguém (me) lendo...

(Guilherme Ramos, 22/05/2013, 23h54.)
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Quarenta Cliques



Fotógrafo de renome. Profissional. Registrava o que houvesse de mais impossível. Já havia feito imagens incríveis pelo mundo – guerras, festas, jogos, esportes radicais, shows, personalidades... do sexo masculino. Nunca de uma mulher. Mulheres eram musas. Inspiravam-lhe, mas nunca poderiam ser registradas em sua real perfeição. Sob pena de sua criatividade, sua inspiração ser drenada até a última gota, levando-o à completa desgraça, caso tentasse.

Já havia recusado diversos trabalhos. Muitos deles, de revistas internacionais. Alguns achavam que era louco ou que não “gostava da fruta”. Ele não ligava. Piadas à parte, ele se focava. E trabalhava, trabalhava, trabalhava. Mas foto de mulher, como sempre, não tirava. Qualquer um podia pagar, implorar ou ameaçar. Era irredutível. Dizia que esse era o preço por seu talento notável. Quase um pacto demoníaco, como o fez Dr. Fausto e Dorian Grey.

Na realidade, houve uma vez – uma única vez – que se apaixonou. E desejou eternizar sua paixão. Mas a moça era tímida. Ele pediu, pediu, pediu... E a jovem recusou. Disse-lhe que não estava pronta. Que um dia, prometeu, faria essas fotos. Inesquecíveis. “Uma para cada ano que ficarmos distantes”. Aí, veio o dilema: se fosse pouco tempo, não tirava uma foto sequer. Ao menos estariam juntos. Mas... E se demorassem anos? Será que as tais fotos compensariam tanta ausência, tanta falta de companhia?

Desse dia por diante, não a tirava do sentido. Guardou-se para a amada e nunca mais fotografou outra mulher. Um misterioso segredo guardado em sete cofres do mais puro aço, no canto mais sombrio de seu coração. Talvez, por isso – mas somente ele sabe – evitasse quaisquer mulheres em suas fotos. E em sua vida.

Nenhuma mulher conseguiu preencher o vazio que ficou, quando ela se foi. A solidão do fotógrafo só não foi maior do que a dor da partida, quando ele próprio não teve forças para apertar o botão da câmera, registrar os últimos instantes da sua vida. A dois. Era uma dor cortante, tal qual o beijo de uma navalha nos próprios pulsos, a esvair seu sangue, sua vontade de viver. E, assim, deixou escorrer todo o sentimento que possuía. Tornou-se frio e distante. Do amor. Apenas o trabalho, intenso, manteve aquele homem – ainda – humano.

Passaram-se os anos. Décadas a fio. Não acreditava que o tempo estivesse em relógios e calendários, aprisionado. Mas sim, livre, esperando a iniciativa certa para ser aproveitado. E ele o fez. Viveu. Sozinho. Com seu trabalho. Não se permitiu aborrecer. Só fez o que gostava.  E gostava do que fazia. Não casou. Não teve filhos. Não teve o coração – mais uma vez – partido. Guardou-se. Para a amada. “Se for pra sofrer, que seja ouvindo uma boa música...” – Pensava, enquanto tomava umas doses de uísque. Sem gelo. Frieza, já havia bastante na madrugada.

De gole em gole, veio o sono. Daí, ir para o quarto era uma questão de princípios. Teria trabalho logo cedo e não poderia se atrasar. Seria um ensaio fotográfico secreto. Provavelmente, de alguma agência grande, para algum produto importante, pois recebeu apenas uma informação: este seria o melhor trabalho de sua vida.

E foi. Logo que acordou, havia um carro a sua espera. Levou-o para uma desconhecida rede de hotéis a beira-mar. Tudo muito chique. Perfeito como o Paraíso. Tomou um café da manhã primoroso, pegou a câmera e foi até o local das fotos, que se tornaram – como era de se esperar – verdadeiras obras de arte.
O sol já se despedia, quando veio a notícia:

- Vamos chamar A modelo para finalizarmos a sessão de fotos, OK?

- Quê? – Seu olhar já denunciava a tragédia que estava por vir. – Eu informei no contrato que não tiro fotos de...

- Mulheres? – Interrompeu uma voz feminina tão doce e sensual quanto uma ninfa clássica, mas de alguma forma, familiar. – Que perspicaz, meu rapaz...

Não conseguia acreditar. Lá estava ela. Exatamente como ele a tinha deixado há quarenta anos. Nenhuma ruga. Nenhuma ideia de como ela podia estar assim. Olhou ao redor. Todos tinham desaparecido. Tudo tinha desaparecido. Exceto o que sentiam um pelo outro.

- E-eu... só tenho 36 poses disponíveis... – Nervoso, foi a única coisa que lhe veio à cabeça.

- Não tem problema. Só precisamos de mais quatro... paredes.

(Guilherme Ramos, 22/05/2013, 01h48.)

[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]

Imagem: Google.
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Por Acaso, um Casal



"Tempo... Calma... Vida. Problema ou equação a ser resolvida/vivida?"

Ela- Chega a ser poético.

Ele- Viver dói. Assim, se constrói. Somos fortes e valentes, somos valetes ou reis, na linha de frente. Em frente! E enfrente. O desafio: viver por um fio? Seja no calor, seja no frio. Confie. Em você. Eu confio. 

Ela- As emoções em corda bamba, até parece samba. Samba da vida. Se fosse do outro lado da lagoa poderia ser um FADO, rasgado, doído! Assim é a vida, assim somos todos nós que ousamos a viver a vida.

Ele- Por isso AMO poesia... Você faz uma rima aqui, vem outra poeta e faz mais outra ali... (Adoro esse mell*, essa jóia sem preço... amo tanto, mais do que mereço!)

Ela- Somos poetas porque assim a vida nos ensinou a ser. Sensíveis a ponto de extrairmos mell* do limão mais azedo. (Adoro esse menino dos cachos que balança a cada passo, a cada vento que bate, como se fosse criança).

Ele- E esse menino-homem (mas sempre criança) adora adorar, adora provar o Mell* das palavras (ben)ditas por outras poetas. Porque assim, ficam portas, janelas, sempre abertas, prontas para o que está por vir. E essa, é a melhor parte: boas novas para sempre vem. E ficam. Nunca hão de partir. 

Ela- E homem se faz pelo caráter... Caráter esse construído quando criança ainda era... Caráter que se espera de alguém tão valioso... Quando criança ainda, correndo descalço e um sorriso largo, feliz com a ingenuidade do mundo. Esperava crescer, ficar gigante, alcançar a lua e colher diamantes. E tem logo dois! E nem precisou ir tão longe.

Ele- Mas de nada adiantaria tamanha grandeza, tamanha riqueza, sem as preciosidades que colheu ao longo da vida: a felicidade (de ter amig@s), a força (de fazer o bem), a velocidade (de bons pensamentos), a alegria (de viver) e o exercício (do perdão). Foi assim, meio sem querer, que ele se fez homem. E, com a mulher ao seu lado, criou laços tão fortes que jamais os romperia por qualquer coisa. E assim foi. Sendo. Ele mesmo. Mas sendo mais. Mais o que podia de mais importante. Ao lado de tod@s. Mesmo distante. Porque sabia que nem sempre podemos estar ao lado de tod@s, mas é possível acompanhar tant@s quanto forem possíveis nas lembranças e no coração.

Ela- E assim o lobo** continua sendo o HOMEM-MENINO/MENINO-HOMEM. Amigo sem impor nada, apenas um olhar alegre de quem deseja ser livre. E livre é. Tantos foram os tempos. Nem tanto assim. Um reencontro, possivelmente predestinado, possível de acontecer. Por termos sempre algo em comum, um laço de fita tão bonito que encanta quem dele se enfeita. A Tragédia, o Drama, a Comédia e o Melodrama. Nossa vida de ser artista resiste, consiste em semelhanças. A vida, o oficio e as semelhanças embaladas num contexto de esperança. Assim, estaremos sempre juntos em um palco qualquer por sermos iguaiszinhos e guardarmos lembranças tão parecidinhas.

Ele- Poesia: palavra em maestria. Isso, o mell* transborda sem se importar. Deseja mais do que o próprio amar. Deseja estar. Perto ou longe, sempre faz o efeito que quer: seja no homem, seja na mulher. O importante é o espetáculo; importante é o além-mar. Importante é estar feliz; importante é feliz estar. Por isso, de hoje em diante, não tem como esconder: se sou feliz, sou o que sou, sou o que soou: sou. Texto, cena, contexto. Tendo razão ou sem noção. Mas a loucura de ser assim, isso nos faz tão felizes. Sempre. Sem fim.

Ela- E a felicidade se fez em palavras belas, feitas só pra ela, só pra ela. E dela extraiu-se o mell*lhor. E a loucura não faz parte de um todo? Da cabeça até o dedão do pé, sem chulé! Sou louca por querer amar, por assim estar. Viajar, sem um passo dar, para o além-mar. E quem dera ser mais louca ainda, ser mais ousada ainda, ser mais feliz... ainda? Outros palcos, outras vidas, outras falas. Outro caráter, jamais. Apenas emprestados, falsificados para a estreia do espetáculo armado, ensaiado, apresentado. Que sejamos belos sem sorrisos amarelos para não descolorir a obra prima. Sem desconstruir a arte, sem modificar a obra do artista tímido.

Ele- E poder voltar no tempo, só para refazer o mesmo caminho, repassar pelos mesmos momentos, divertir-se mais de uma vez, mesmo sabendo o final (feliz) que encontraríamos. Porque essa insensata sensação é muito mais do que uma vida pode explicar. Permitir. Realizar. Isso é viver! Isso é estar! Bem. Ao lado de alguém. Que nos faz bem. E segue o relógio do tempo, "irretornável", preparado para o que der e vier. De novo, novamente, outra vez e sempre. Porque o que queremos é sermos felizes. Sempre. Eternamente. Até que tudo comece outra vez...

Ela- Vou responder sem temer, sem tremer, sem pensar no que há de ser. Hoje a vida deu mais uma volta. E as outras? Que a verdade seja dita, desdita, repetida, expelida. Cuspida, escarrada como um NÃO na cara. Que maldade é um NÃO. Que infelicidade pode ser um SIM. Um TALVEZ é enlouquecedor. Porta fechada é sinal de que se perdeu a chave ou não a encontrou. A minha casa está sempre com as portas abertas, escancaradas. Quem quiser pode entrar. Difícil é ficar. Porque não deixo, não ocupa espaço, não enfeita minha sala nem a deixa mais bela. Sou sincera, não espera que o tempo passa. Os olhos abertos, espertos, olha para o colorido do arco-íris e diz: Como é lindo, ali eu vou ser mais feliz. E o que diz? Nada. Por nada ser e a nada pertencer. Que pena, que engano ridículo, fez-se bonito sem lindo ser.

Ele- E você se desnuda de forma tão prazerosa nas palavras, que tenho vontade de despi-la de verdade. Primeiro, risos, depois... roupas.

Ela- Verdade. Eu não desperdiçaria palavras para falar inverdades, jogá-las ao acaso.

Ele- Acaso? Eu e você? Do jeito que vamos, as roupas se vão, do piso ao chão, antes mesmo de nos encontrarmos! Através de rimas ilógicas, metafóricas. Hoje, ontem, sempre estamos assim. Desajeitados, ajeitados, desmedidos. Sempre fomos insinuantes, inconstantes e contidos. O que fazer quando o caminho é curto, mas o atalho é tão comprido?

Ela- Talvez (re)fazer, (re)construir outro atalho, outro caminho.

Ele- Aceito. Contanto que não faça isso sozinho...

(Crônica quase dramatúrgica atemporal de Guilherme Ramos e Mell Xavier, baseada na divagação de Analice Souza, em 07/05/2013, às 00h40, pelo Facebook. Revisado e editado em 21/05/2013, 20h.)

(*) Alusão ao nome da autora.

(**) Referência ao autor.

Imagem: Google.

segunda-feira, 20 de maio de 2013 1 comentários

Livre Arbítrio



Ela o amava. Ele a amava. Mas ainda eram "jovens demais para a adolescência". Coisa de criança, sentimento de adulto. Como explicar essas coisas? Não se pode. Só se sente. E isso eles faziam muito bem.

Conheceram-se numa festa junina, em meio a fogos, comidas típicas e o cheiro de fumaça das fogueiras – que se espalhavam a cada metro quadrado nas ruas, espalhando uma estranha e etérea beleza.

No início, ele nunca lembrava seu nome. Perguntava a cada instante. A um e a outro. Só se lembrava da menina loira, que dançava quadrilha, sorria alto e estava sempre de bom humor. Ela, ao contrário, sabia seu nome completo, apelido, o que ele fazia, o que ele gostava e o que eles fariam. Namorar.

E namoraram. Escondido. Como todo namoro adolescente que se preze. Mas quase todo mundo sabia. Menos os pais dela, claro. E foram felizes – dentro do possível – por um bom tempo, até os pais dela descobrirem. Daí foi aquele drama: ela ficou em casa, ele ficou na rua; ela ficou chorando, ele tentando não chorar; ela escrevia cartas de amor, ele histórias de amor. E, assim, passaram uns tempos separados.

Quando se viam, era uma alegria contida. Os olhos se enchiam de lágrimas, as bocas escorriam sorrisos, os suspiros eram tão fortes que roubavam o ar dos demais. Mas a asfixiante sentença materna, “vocês não podem namorar” extinguia qualquer possibilidade de vida. A dois. De reencontro. E o namoro virou um sonho.

E cada um seguiu seu rumo. Cresceram. Estudaram. Formaram-se. Empregaram-se. Casaram. Tiveram filhos. Separaram-se. Viveram. Reencontraram-se. Falaram-se. Riram. Lembraram-se. Riram – ainda mais. Saíram. Dançaram. Divertiram-se. Refletiram. Riram – muito mais. Despediram-se. Voltaram para casa. Pensaram. Repensaram. Racionalizaram. Definiram. Sorriram. E suas vidas, mais uma vez, seguiram. Cada um para o seu lado. Na paz. Nenhum certo. Nenhum errado.

O que houve, houve. Não havia mais razão para sonhar. O que deveria ser feito, foi feito. Nunca iria mudar. E o amor, que antes foi perfeito, não caberia mais naquele lugar. Virou amizade. Forte e nunca iria mudar. Porque é a amizade, que todo casal deveria se apoiar. Porque relacionamento, sem ela, um dia pode ter seu fim.

Ele disse: “Foi assim comigo”.

Ela disse: “Também foi pra mim”.

A sorte deles foi ter um ao outro como amigo. Ao invés de sofrerem – e brigarem – pensando no próprio umbigo. Competindo para saber quem tinha o grau máximo da dor de não ter sido um casal. Como uma história sem prazer, que no fim, acabava mal. Foi melhor assim. Um final, sem fim. Onde cada um poderia se lembrar do que mais gostou. Platônico. Evitando o sofrimento de morrer pela boca, reclamando da falta de amor. O que, na maioria das vezes é bastante constrangedor.

Porque não é assim que acaba toda história? Não na literatura, mas na vida real. Pois mesmo estando junto, alguém no fim sempre se vai. E, indo – para ali ou para o além, sempre leva um pedaço de nós. Seria por causa disso (finais e começos são uma questão de livre arbítrio) que tantas pessoas decidem ficar... sós?

(Guilherme Ramos, 20/05/2013, 13h15.)

[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...]

Imagem: Google.
sábado, 18 de maio de 2013 0 comentários

Quem se Importa?


O que importa?
Amiga, namorada,
Eu abro a porta,
Cedo o lugar,
Dou (até) cantada.
Sem ser vulgar...

(Mas se vulgar, quiser-me você,
posso tentar... e te enlouquecer.)

(Guilherme Ramos, 17/05/2013, 13h49.)
sexta-feira, 17 de maio de 2013 1 comentários

Moribunda


Estava velha. Cansada. Acabada. Tudo de pior. Arquejada, aquela figura traduzia tudo de mais horrendo que a história da humanidade poderia presenciar. E, a cada segundo que se passava, a cada fração cronológica que se formava, parecia piorar. Mais e mais e mais.

A ação do tempo foi-lhe negativa. Assim como foram negativas todas as suas experiências. Família, escola, faculdade, trabalho, outra família. Aliás, outras famílias. Várias. Parecia ter se casado muitas vezes. Ano após ano. Divorciosamente. Viúvamente. E, a cada necro-matrimônio, a responsabilidade lhe corroia. Mais e mais e mais.

Não teve muita sorte. Desgastes aconteceram tantas vezes, que perdeu a conta. Para que lembrar? Lembrar de que? Das traições? Das mentiras? Das faltas de tempo? Das discussões? Das omissões? Das... tantas coisas. Que não valeria a pena registrar. Resgatar. Relembrar. Mais e mais e mais.

Redescobrir-se era uma missão difícil. Quem era ela? De onde veio? Para onde iria? Iria? Porque do jeito que as coisas iam, em nada daria. Triste fim. Triste verdade. Triste. Verdade. Mais e mais e mais.

Era triste. Solitária. Sozinha, numa multidão de gente conhecida. Mas preferia isso a estar mal. Acompanhada, sentia-se pior. Preferia estar só. Não era depressiva. Mas tinha sintomas. “Deprês” são: traços de que poderia ser uma pessoa melhor, se quisesse. Mas se deixava levar pelas negativas dos outros. Pelas (más) vontades dos outros. Pelos outros. Pobre criatura. Pobre. Criatura. Mais e mais e mais.

Tontura. Era o que sentia, quando tentava ser feliz. Ser feliz lhe dava náuseas. A ânsia de vômito sobrepujava qualquer sorriso que lhe estampasse a cara. A cara de pau que insistia em usar - como se fosse sua vontade real - causava-lhe cicatrizes. Na alma. E isso, também, marcou sua pele. Mais e mais e mais.

E o que mais? Ah! O sofrer. A angústia, seu sangue, percorria-lhe o corpo esquálido num batimento cárdio-sufocante, beirando a arritmia. E a cada milimétrico avanço do ardente líquido, só lhe restava converter-se em suor e lágrimas sem sentido. Coisa de gente doida. Coisa de caso perdido. Mais e mais e mais.

O coração já não mais existia. Era uma bomba. Literalmente. A cada novo “bater”, o corpo padecia como uma escrava no tronco. E as chagas abriam-se facilmente, na pele tão sofrida. Ferida. Fendida. Fedida. A necrosar. Independentemente de ser libertada ou ser morta, a moribunda possuía marcas permanentes – e membros a amputar. Mais e mais e mais.

Então, parou de desenhar. Rasgou a folha A3 de papel canson em pedaços. Atirou-os na lixeira, como alguém que se livra de um imenso fardo. Como se faz com um devorador de pecados. E recomeçou o autorretrato – de sua alma. Árdua tarefa, para alguém de vinte e poucos anos. Bem vividos. Só que não. Menos e menos e menos...

(Guilherme Ramos, 17/05/2013, 18h29.)


[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...] 

Imagem: Google (Dürer - autorretrato com ligadura).
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Ah! Mar...



Amar...
É mar.
Imenso.
Pronto
Pra navegar.
O mar,
Ah! Mar!
Eu penso:
Ponto
A se explorar

(Guilherme Ramos, 16/05/2013, 20h08)

Imagem: Google.
quinta-feira, 16 de maio de 2013 0 comentários

Muito Pouco



Tinha pouco o que falar.
Mas muito o que dizer.

(Guilherme Ramos, 15/05/2013, 22h49.)

Imagem: Google.
quarta-feira, 15 de maio de 2013 1 comentários

Desabafo



- Ah! Pelo amor de Deus, amigos meus! A quem vocês querem que eu engane?

E o silêncio, apenas, foi sua resposta.

- Já esperava por isso. Tem certas horas que não podemos contar uns com os outros. Não é uma questão de ser - ou não ser - amigo. Verdadeiro. É por uma simples questão de lógica: precisamos cuidar - nós mesmos - dos nossos problemas. Por que envolver mais gente nisso? Não que eu ache um desabafo desnecessário, mas, tem hora pra tudo! Agora mesmo. Quem se importa se estou bem ou se estou mal? Cada um tem a sua vida. E muito o que cuidar. Que se danem os supostos donos de minha vida! Eles não pagam minhas contas! Só querem se meter e reclamar. Criticar meus atos, minhas escolhas. Reclamar que estou solteira, que arrumei namorado, que me separei. Falar mal dos outros para mim, mesmo eu sabendo que eles fazem a mesma coisa com os outros, sobre mim. Uma grande fantasia, essa que eu visto. Que finjo ser alguém para os outros se contentarem. E eu? Como fico? Como ficam meus dias e noites, sem referência de mim mesma? Onde ficará meu legado para o mundo? De que adianta ser mais uma cópia da sociedade? Uma cópia mal feita de qualquer uma? De uma qualquer. De uma “unzinha”. Não quero isso. Quero fazer minha história. Quero me fazer mulher. Que sou. Que posso ser melhor. Porque nem só de compras e futilidades é feita uma fêmea da espécie. Mulher de verdade, tem salto alto para pisar no calo dos outros e não fazer calo em si. Mulher de verdade é livre para fazer o que quiser, Porque ela quer. E não porque querem que ela queira. Isso é lenda, história pra boi dormir. Intriga de marketing para que os homens se achem mais. “Se achem”, porque é uma maioria de perdidos. Perdem-se em seus sonhos. Perdem-se em suas meias verdades. Perdem-se em nossos braços. Baratos. São uns baratos mesmo. Vendem-se por um beijo e um sexo requentado. Nos braços de uma mulher, são corpos que passam pelo feminino. São filhos. São amantes. Não irmãos. São homens. São tesão. São sexo. Complexo? Não. Sem nexo? São. Assim como nós. Mulheres. Entender-nos é tão difícil - senão mais - que sobreviver à queda em um precipício. Nem nós nos entendemos. E nem queremos. Porque fomos feitas do mesmo material dos homens e de seus sonhos. Apenas com algumas melhorias. Algumas quentes, outras frias...

Silêncio total. Pausa no recinto. Palmas. Mais palmas. Muitas palmas. Aplausos. Mais aplausos. Muitos aplausos.

- Ficou bom? – Disse ela.

- Ficou ótimo! Excelente! Nunca vimos uma performance tão convincente! Os deuses do teatro devem estar orgulhosos de você, nesse momento.

- Quem bom. - Sorriu. Desceu do palco. Saiu do teatro. E pensou - Agora, basta eu fazer a mesma coisa na minha vida...

(Guilherme Ramos, 14/05/2013, 23h40.)

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domingo, 12 de maio de 2013 1 comentários

Depois...



Depois, já foi agora. Mas, pego de surpresa, desistiu de ser e se foi. Para num outro momento se tornar. Mas sem certeza absoluta. Porque depois é um tempo sem tempo. É distante. É reticente. É... depois.

E, depois, pode ser tarde demais:

Depois eu conto. Depois eu faço. Depois eu ligo. Depois eu vou. Depois eu dou. Depois eu. Depois você. Depois, ninguém. Depois, depois...

Que mal há no agora?

Agora eu conto. Agora eu faço. Agora eu ligo. Agora eu vou. Agora eu dou. Agora eu. Agora você. Agora, nós. Agora, agora!

É tão mais animador! Agora, você pode fazer tudo. Depois, não fará nada. Agora, você é. Depois não sabe se é. Porque a vida é feita de ações. E deixar para depois nada mais é que... evitar o momento. O presente. Muitas vezes, abandonar o evidente.

Enfim, depois, depois, não diga que eu não avisei...

(Guilherme Ramos, 12/05/2013, 21h09.)

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sexta-feira, 10 de maio de 2013 2 comentários

Materna Idade




A pequena ainda estava em boas mãos. Frágil. Inocente. Bela. Como pode uma vida tão minúscula, possuir tamanha grandeza?

E assim, mais uma história preparava-se para ser contada.

Ser mãe não é, apenas, ser genitora. – Pensava. – É uma série de mudanças radicais que se assume na vida. É uma trilha acidentada, repleta de emoções, mistérios, sofrimentos, desafios e surpresas (boas e más) impossíveis de serem entendidas, se não forem vivenciadas. Porque esse estado de espírito, mente e corpo, é mais do que se pode explicar. É preciso transmutar-se, transfigurar-se, transcender-se a mais elementar e complexa fase humana.

Sempre haverá mudanças em nossas vidas. – Lembrava. – Grandes ou pequenas, elas sempre serão mudanças. Mudamos de relacionamento, mudamos de endereço e até mesmo de opinião. Mudança é bicho teimoso. Não se conforma com o que tem. Há sempre necessidade de ir. Além.

E grandes mudanças são como partos. – Acreditava – Ora naturais, ora cesarianas. Surgiam no tempo certo ou eram forçadas. No fim, paria-se o efeito. E tudo que foi algum dia, totalmente acreditado, terminava completamente desfeito.

Mas como saber de tudo isso, se havia tão pouca experiência? – Refletia. – Era tão jovem, tão solitária, em meio a tantas dúvidas... Os porquês lhe pareciam inalcançáveis, inatingíveis, até. Era um momento de curiosidade, de saber a verdade, venha ela de onde vier.

Vai. Seja o que quiser. – Escutava. – E foi. Inicialmente, a luz lhe pareceu incômoda, assustadora. Mas o desconhecido é sempre assim. Era uma questão de tempo. Para se acostumar. Até poder curtir. Como infância. Depois, viria a adolescência, a maturidade, a velhice e, enfim, a morte. O fim de um ciclo. Um novo começo. Mas esse assunto seria uma outra história.

Pequena, ainda estava em boas mãos. Bela. Inocente. Frágil. Como pode uma vida – que será tão grande um dia – ter sido tão minúscula?

Mas, por enquanto, era só isso.

Hora de nascer...

(Guilherme Ramos, 10/05/2013, 14h. Inspiração pela proximidade do Dia das Mães?...)

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Nós



Nos nós, nós nos envolveremos.
peles e pelos, grudados a sós,
Assim: como cartas e selos...

(Guilherme Ramos, 09/05/2013, 23h44.)
domingo, 5 de maio de 2013 0 comentários

Inabalável



Adorava arte. Teatro, música, cinema, livros, exposições... Toda e qualquer manifestação artística lhe interessava. Não perdia nada. Por nada. Era noite e dia, sempre naquela agonia: “antes arte do que nunca”. Sobre arte, inclusive, vivia dela. Professora. E desenhava, escrevia, dançava, pintava aquarelas, fazia oficinas de teatro, música, audiovisual. Não tinha tempo para bobagens. As bobagens, no entanto, a perseguiam. Mas ela, com maestria, se desvia, se desvia, se desvia...

Quantas mulheres que você conhece assistem à TV Cultura? Escutam a Rádio Educativa? Em casa, no trânsito, onde for possível, lá está ela, sintonizada. As outras emissoras de TV e rádio parecem não existir. E, se olharmos conceitualmente, no seu caso, não existem. Por isso, a paixão – pela arte – só aumenta mais. Por isso a paixão – por ela – de um homem à parte, era um misto de platonismo, amor cortês e utopia.

Mas os dois (se) queriam. Que ficasse assim, lindo. Limpo. Límpido. Diferente da ideia de amor vendido pelas mídias em geral. O amor carnal, mero carnaval, estação propícia à reprodução da espécie, de espécie alguma interessava aos dois. Não queriam apenas “comer”. Não era esse tipo de relação, arroz com feijão, que queriam. Era um abraço, aumentando o laço. Um afago, deixando a tristeza de lado. Um aceno, tornando o tenso mais ameno. Um sorriso, fortalecendo o compromisso. Um sexo, com nexo – e não, complexo.

Mas ela precisava de um tempo solitário (e solidário) para si. Queria-se por perto. Sem mais ninguém. Isso já era companhia demais. Uma verdadeira multidão. Um estouro de boiada. Porque sua cabeça latejava de tantos problemas. Sim, ela também os tinha. Era humana. Mediana. Comum, apesar de tantas qualidades. E, como tal, precisava rever alguns conceitos. Desnudar-se. Desacorrentar-se do passado assombrado que a perseguia – as tais bobagens – e livrar-se dos pesados grilhões da sua insegurança.

Poderiam perguntar: como alguém assim, tão independente, pode ter insegurança? A resposta poderia ser qualquer uma. Porque certas regras não se aplicam a todas as situações. E cada um deve lidar com seu fardo. Ela tentava. E não criava expectativas. Não contava com a compreensão de ninguém. Se a obtivesse da pessoa certa, seria lucro. Se não, evitaria novas frustrações. Simples assim.

E vivia. Um dia por vez. E a cada respiração, sabia que seu dia chegaria. Porque como qualquer pessoa que se preze, em meio a tantas coisas para pensar e fazer, havia uma meta que não abriria mão por nada desse mundo: a felicidade. De ser ela mesma. De fazer o que queria. De amar quem quisesse. Ou não. Sem regras. Sem imposições. Sem frustrações. Apenas amor. Porque esse sentimento é mais do que vendem em bancas de jornais. É mais do que pregam pelas esquinas. É mais do que podem explicar num poema, conto, novela ou romance.

Amor é verbo to be. É Ser/Estar. Bem. Com ou sem alguém.

E, além disso, tinha a arte. Ao seu lado. Fiel. Amável. Confiável.

Inabalável. Como ela mesma se deixava transparecer.

Algumas vezes, até mesmo sem ser.

(Guilherme Ramos, 05/05/2013, 21h41.)

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quinta-feira, 2 de maio de 2013 0 comentários

Sentimento



É. Ela ainda sentia alguma coisa.

Também sente que as coisas não estão bem.

Sente que ele se afasta a cada segundo, sem nem ao menos sair do lugar. Seu olhar anda perdido, pedindo novas perspectivas. E o que lhe resta é pura ilusão. De ótica. Anda meio torta... Fora de órbita.

Escuta Ed Sheeran, pedindo “Give me Love”, depois viaja com A-ha, enquanto “Turn the Lights Down”, faz escala/conexão em Cold Play, desejando “Fix You”, perdeu as contas das vezes que escutou Birdy e seus “Comforting Sounds” ou Oceanlab, sugerindo-lhe “Breaking Ties”. Mas é passiva. De erros. Ele também. Apenas escutando. Músicas. Internacionais. Ao invés de traduzir. Seus sinais. Seus desejos. Reais.

Desliga o som. Nada mais lhe precisa entrar pelos ouvidos. Nem música, nem palavras. Sem silêncios duradouros, não se pensa direito. É preciso ouvir o coração. Escutá-lo bater. Bombear sangue. Ao invés de mágoas. Tristezas. Saudades. Sem data de vencimento.

[Escutando o coração...]

[Só mais um pouco...]

[Quase lá. Você deveria fazer o mesmo...]

[Fez?]

[Ela espera.]

[OK.]

Liga o som novamente. Mesmas músicas. Mesma sequência. Mesmo volume. Previsível. Mas o efeito é diferente. Não há dor. Nunca houve. Há um desejo de esquecer. De (re)viver algo novo. De evitar pensar em algo que não mais existe. Mas como, se acredita em tudo? Até em fantasmas...

As redes sociais mostram sua incrível capacidade de tentar ficar bem. Melhor. Sem ele. Resta-lhe não ligar para o que vê (e o que não vê) por aqui e por ali. Na esperança de dias melhores. Para ela e para ele. Porque o que sente é mais do que se pode explicar. Esconder isso dos dois, com medo do que o passado lhes fez, com medo do que o futuro pode lhes causar, é subestimar o presente – e o que realmente importa.

É como querer atravessar paredes sem abrir algumas portas. É querer ficar debaixo d’água e tentar sobreviver. Sem seqüelas. É querer saltar de um precipício e achar que pode voar. Mesmo sem asas... É querer. Mais. Sempre mais. Mas... Sem mais nada ter.

Se, ao menos, ela o tivesse ao seu lado, a queda não pareceria tão grande... E a morte, essa indesejada, estaria distante. Não seria quase nada. Porque viver sem ele era completamente, definitivamente, racionalmente possível.

Porque o mundo não precisa dos dois juntos, para girar.

(...)

Mas, com certeza, ele girava bem melhor...


(Guilherme Ramos, 02/05/2013, 22h59.)

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"Homenagem" a Trois



Três corpos,
Um desejo,
Quatro bocas,
Nenhum beijo.
Peles quentes,
Suor de gente
Impaciente.
Espumantes
Sensações,
Indefinidas
Equações.
Sentimentos
Ressentidos,
Desafios
De vento em popa.
É tudo ou nada:
Menos luz...
Ou menos roupa.

(Danda Almeida, Guilherme Ramos e Sérgio Heringer, 01/05/2013, quase 23h, na Mesa XXII...)
 
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