sábado, 31 de dezembro de 2011 0 comentários

Desabafo Quântico


Não sei o que escrever.

Mas preciso escrever. 

Tenho o coração cheio de algo que não sei explicar. 

Perda? Mágoa? Tristeza? Rancor? Sentimento misterioso, percorre o corpo, sem explicação. Sem orientação. Sem rumo. Sem nada. Talvez seja isso: uma incrível sensação... de nada.

O nada possui muitas coisas. Paradoxal? Nem tanto. Pensemos assim: se o nada tem dimensões mínimas, inexistentes, o que se acumula ao seu redor? Como poderíamos denominar a área contígua ao nada? Seminada? Quase nada? Tudo? Sim, porque tudo está em volta do nada. E, sem o todo como referência, não existiria o nada. Confuso. Mas coerente. Não poderíamos confirmar uma presença, se não houvesse a ausência. O que é estar presente em algo? E o que é estar ausente? Uma coisa não existe sem a outra.

Não haveria a existência se não houvesse a inexistência. Olhemos o ar. Ele está sem nada? Não. Há milhares de substâncias invisíveis, seres vivos, enfim... Não há nada para se ver, ou seja, inexiste uma visão, mas há uma infinidade de existências.

E, nessa confusão toda, só existe um nada absoluto. Ou absolutamente nada. Você escolhe. 

(Guilherme Ramos, 18/10/2011, ‏‎01h14. Último post do ano. Que ele sirva para "energizar" minhas ideias e preparar minha mente para novas postagens... em 2012! FELIZ ANO TODO pra tod@s!!!!!)
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 0 comentários

Conto-Crônica de uma Paterna Idade


O caso é: em (toda a) sua vida não foi um bom pai. Algumas fotos em preto e branco (devido à época que seu filho nasceu) e só. Lembranças, poucas. Efeitos (colaterais) muitos. Não, não foi um bom pai. Foi ausente. Aos 2 meses de idade de seu filho, saiu de casa. Sua sogra disse que “comprou” a criança com alguns trocados, pois o homem só falava em sair para tomar cerveja. Drama familiar verídico. Voltou algumas vezes (talvez para pegar mais dinheiro – ou, apenas, sondar o terreno). Quando o filhote tinha 10, 12 anos, voltou novamente. Sentou no batente da porta e recebeu aquela criança desconfiada com o silêncio. A mãe (ou será que foi a avó?) apenas disse:

- É o seu pai. Fique com ele um pouco.

Sorrisos amarelos de ambas as partes, parecia que nada tinha acontecido antes e o pequeno pode falar asneiras à vontade. Até chegar a hora do homem ir embora. E foi. Por mais alguns anos.

Voltou quando a criança já era adolescente. 16. Fase difícil. E difícil foi o encontro. Já chegou dizendo:

- Agora que a “velha” morreu – referindo-se à finada sogra – vou voltar para casa.

Recebeu uma porta na cara. E uma resposta tão rápida quanto o movimento dela.

- Agora quem é o homem da casa sou eu. Não precisa mais voltar.

E se passaram mais algum (poucos) anos. Era noite quando aguardou o filho do lado de fora da casa. Noite fria. O filho, agora com 18, voltava cansado de um ensaio de teatro. Carregava muitas tralhas e ele esperou o rapaz se aproximar. Olharam-se nos olhos. Silêncio.

- Eu vou entrar! – Disse o pai.

- Não mesmo. – Disse o filho, dando de ombros e abrindo a porta.

Não houve mais palavras. Só um golpe, com um cabo de vassoura, que atingiu em cheio as costas do rapaz, que, devido à posição que se encontrava, caiu para dentro da residência. Ele não podia acreditar no que seu pai acabara de fazer. Olhou-se no espelho e viu a marca rubro-violeta de um canto a outro das costas. Não manteve o controle. Tentou revidar. Sabiamente, sua mãe trancara novamente a porta, impedindo-o de sair. E o embate foi verbal. Certa hora, chamou a polícia. E a polícia não chegou. Chegaram vizinhos. Curiosos, acerca do fato. 

- Eu não fiz nada, disse o pai. A madeira caiu do telhado e acertou ele! – Afirmou.

- E deixou uma marca “horizontal” nas minhas costas? – Retrucou o filho. – Você é doido! Não apareça mais aqui!

As pessoas afastaram o pai e o levaram embora. A noite pôde ser de paz.

Dias depois (ou semanas depois), não se sabe ao certo, o pai volta e novamente espera à porta. Quando o filho chega, apenas o vê com outro pedaço de madeira numa mão e na outra o braço de sua mãe, atravessado numa bandeira da porta já quebrada. Sua reação foi imediata: deu um empurrão tão forte no pai que ele caiu. E a madeira também. E lhe foi dada uma lição. Uma paulada em cada mão, para estourar as unhas. Para ele ver como se bate em mulher. Agora, apanhava do filho. Novamente os vizinhos chegaram e apartaram, melhor dizendo, seguraram o filho, antes que uma tragédia se findasse. E deixaram o pai ir. A uma pouca distância, o filho se esgoela:

- A partir de hoje, se você me vir numa calçada, atravesse a rua, porque senão vai ter merda! Tá me ouvindo? Vai ter merda! Merrrrdaaaaaa!

E ele seguiu. Não se virou, nem se despediu. Sumiu. E dessa vez, para não mais voltar. O que foi um alívio para a família. Muito mais tempo se passou e não se tinha mais notícias dele. Apenas rumores. Estava numa hospedaria próxima, mas nunca foi visto nos arredores. Parece que o recado foi bem entendido. 

Até que 20 anos depois, numa roda de amigos, alguém diz:

- Estava fazendo uma matéria para TV, num abrigo de idosos e acho que vi seu pai.

Silêncio completo. A reação do filho foi fria.

- Foi? Não sabia. – E pensou alto - É, ele deve ter enchido a paciência da família e o colocaram lá.

O amigo nem continuou a conversa. Apenas bebeu sua cerveja e mudou de assunto. Mas aquilo ficou na cabeça do filho: seu pai, sozinho, num asilo. Que fim para um ser humano. Por pior que seja, o homem deve ter alguém para se apoiar e viver o resto de seus dias. Mas só se colhe o que se planta e essa foi a colheita que se teve. O filho continuou sua vida. O pai continuou a sua.

O filho teve uma filha e sua esposa até lhe perguntou:

- Vai apresentá-la ao seu pai?

Novamente o silêncio tomou conta de tudo. Mas uma breve resposta finalizou o diálogo.

- É melhor não. Mas, quem sabe? – E só ficou na promessa. 

A esposa engravidou novamente. O filho, outra vez pai, fez um comentário surpreendente:

- Se for menino, podíamos usar o nome de meu pai, o que acha?

Ela concordou, mas com o tempo, resolveram, inconscientemente, usar outro nome. Não era pra ser. Ela novamente sugeriu que ele visitasse o pai, pois precisava perdoá-lo e livrar-se de qualquer ressentimento. Isso não levaria a nada.

Novamente, veio o silêncio. E uma curta resposta.

- Talvez. 

Depois disso não se falou mais nada. Talvez, por respeito à sua opinião, talvez por saber que nada o convenceria de fazer algo que não quisesse. Talvez quisesse ir, mas, não tivesse coragem... Eram tantas as opções que não valeria apena listá-las. Afinal, a opção é ir ou não ir. Os motivos podiam ser quaisquer. Não interessava.

Passam-se meses. Certa tarde de outubro, o telefone toca.

- Quanto está o salário mínimo? – Era sua mãe.

- Não sei bem. – Respondeu. – Uns R$ 540,00. Por quê?

- Seu pai faleceu. Foi enterrado ontem. 

Novamente o silêncio. Dessa vez, justificado. Era sua mãe. Numa calma inexplicável. Não havia frieza e nem ela fez por mau gosto. Apenas não havia mais tantos laços. E ela, com 71 anos, tinha seus próprios problemas de saúde, que justificavam qualquer coisa.

- E você? Como está? – Ele tentava manter a calma, mas estava abalado. Pai é pai. A morte sempre deixa a pessoa sem norte.

- Bem. Sua tia vai trazer uns documentos dele. Vou ficar recebendo uma pensão. Vamos colocar na poupança...

- Nunca precisamos do dinheiro dele – seu orgulho estava ferido, por algo mais afiado que a mais afiada das navalhas – Não será agora que vamos precisar.

- Vou cuidar disso. Depois nos falamos.

Ele desligou. E a sensação de vazio ainda preenchia sua alma. Estranho quando a indiferença se transforma numa mea culpa post mortem. Parece clichê, mas ele sentiu a perda. Disse, certa vez, que sua morte não seria sentida por ele. Ele mentiu. Principalmente para si próprio.

Houve um momento de pena. O miserável morreu cego. Nem que ele tivesse levado a filha para ele, ele poderia desfrutar do momento. Estava cego há alguns anos. Sua família (toda) não sabia. Estava em um lar para idosos. Isso soube há pouco tempo, por terceiros.

É um momento indescritível, a morte de um ente não-querido. Por mais que o culpasse de todas as coisas ruins que ele fez, precisava ser-lhe grato. Ele contribuiu para que o filho existisse. E, talvez, somente por ele ter sido tão omisso, egoísta, bêbado e afins, seu filho pôde ser tão diferente. Pôde fazer a diferença. E, nesse momento, pôde ser diferente. Não quer ser igual ao pai. Está tentando escrever uma história diferente. Tem duas filhas e quer dar-lhes todo o amor, respeito, conforto e tudo de bom que uma família deve ter. Tudo o que ele próprio não teve. Do pai. 

Que ele, nesse momento, onde quer que esteja, possa descansar em paz. Numa paz que nunca teve. Porque “errar é humano; perdoar é divino.” E estamos no processo. Que os remanescentes da família possam seguir seus caminhos. Ainda há muito o que fazer. E deve ser bem feito.

(Guilherme Ramos, 16/10/2011, 1h55.)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 0 comentários

Querer


Eu queria abraçar o sol, a lua, as estrelas...
Pois não me contento (apenas) em vê-las.
Queria alcançar as nuvens, os céus, os universos...
Não aceito (somente) transpor-lhes em versos.

Voltar no tempo, surgir no futuro, eu tento.
Vou e volto e volto e venho num breve momento,
Na eternidade de te ter e não ter para sempre:
Não precisa ser “olho por olho, dente por dente”.

Voando nas asas de uma borboleta perdida,
Quero alcançar os braços da pessoa querida.
Isso é fato, farto, prático – consumado ou não.

Mas sonetos não cabem o que quero mostrar,
Tão pouco preenchem o que não cabe num mar:
Sentimento, certo ou errado, por todo um coração.

(Guilherme Ramos, 23/12/2011, 16h50, no tempo de um café... com leite.)
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011 2 comentários

Loba Má



Era uma vez, mais uma vez, em eras...
Em dias sem fim, em noite eternas,
Uma loba voraz, de apetite insaciável,
Uma jovem audaz, de requinte impecável.
As duas competiam dia e noite, noite e dia
Para ver quem, no amor, tão logo vencia,
O desafio maior, de um homem encontrar:
Para o sexo, para a vida ou para um simples amar.
Então a criança, logo mais à tardinha,
Foi levar alguns doces para a vovozinha...
A loba, esperta, tomou a dianteira,
Seguiu pelo morro, descendo a ribanceira.
Chegou bem mais cedo, na casa da velhinha,
Surrou-lhe, prendeu-lhe, oh! Pobrezinha...
Tomou seu lugar, suas roupas vestiu,
Começou logo um plano, que no caminho urdiu.
Tão logo na cama, a loba deitou,
A jovem menina, tão logo chegou.
Ela tinha saudade da sua vovozinha
Tão alegre estava, não percebeu a lobinha
Que, aos poucos, foi-lhe convencendo
Que deveria ficar, pois estava anoitecendo.
A jovem aceitou, tudo de muito bom grado,
Nem sequer percebeu o destino sendo traçado...
Mas tudo era tão estranho, a vovozinha diferente,
Ah! Devia ser isso mesmo, ela estava doente!
A jovem, preocupada, começou a conversar,
Enquanto isso, a vovozinha, ficava só a lhe olhar...

- Que olhos tão grandes, vozinha! - disse a menina inocente.
- São para te ver melhor, oh! Pingo de gente...
- E essas orelhas, vovó? Que tamanho de brinco!
- Não querem mais te ouvir, você sabe o que sinto!
- Não entendi, vovó, sua voz está tão estranha...
- É a doença, minha netinha, que me corrói a entranha.
- Que doença, vovó? O que está acontecendo?
- É o ciúme, netinha, que anda me corroendo...
- Ciúme de quê, minha vó? Do que está falando?
- Não se faça de besta! - gritou, só os dentes mostrando.
- Mas que boca enorme! Nunca a tinha visto assim!
- E nunca mais vai me ver, pirralha! Porque hoje é o seu fim!

A lâmina do punhal, perfurou-lhe o flanco,
Rasgou-lhe o coração de canto a canto.
Foi um golpe certeiro, o que a jovem tomou.
Sem chance para esquiva, seu corpo tombou.
Ainda viu a avó, morta, ao seu lado ser colocada,
Viu sua capa, de branca, tornar-se encarnada.
Depois, só sentiu seu corpo ser esquartejado.
Nas mãos da loba ensandecida havia um machado!
Alegria insana! Loucura desvairada!
E aquela cena de horror varou a madrugada.
Enterrados os corpos, tal lembrança se apagava.
Em breve, das duas, ninguém mais se lembrava...
De seu passado, só restou a memória no espelho,
O jorro de sangue que pintou sua roupa de vermelho.
Tornando o modelo único, a povoar suas lembranças.
De que com adulto não devem se meter as crianças...
Pois o jovem caçador, homem tão desejado,
Era somente da loba e com ela seria casado.
Não seria uma jovem tola, inocente e pura
Que estragaria o desejo da mulher-loba àquela altura.
Caso como esse, não se conta desse jeito, precisamente,
Por isso todo livro que o conta, alguma coisa mente.
E você que fica enganado, acreditando em contos de fadas
Saiba, agora, que existem “más coisas erradas”...
Aprenda, aqui, um pouco do que aconteceu.
E tome cuidado, pois quem lhe conta sou eu:
A loba má, que casou e teve filhos com o caçador:
Cujas histórias foram escritas em livros de valor.
Mas são outras histórias; serão contadas mais tarde.
Afinal, toda ferida, até sarar, um bom tanto arde.
Não fica bem, na história, estragar-lhe o final,
Pois é melhor camuflar-se num corpo de “lobo mal”.
E deixar bem mais leve o assassinato cruel,
Dar-lhe veias poéticas, adoçar-lhe o fel...
Para que o duplo homicídio seja disfarçado, então.
E o que passou, passou, possa ter seu perdão.
Pois se há alguém que deve ser condenado,
É tão somente o amor, no peito da loba, o culpado.


(Guilherme Ramos, 13/12/2011, 1h20 e 15/12/2011, 23h, num rompante lúgubre de inspiração sanguinolenta. Rssss... Agora, sério: quem foi que disse que os “contos de fadas” são do jeito que nos contaram? Talvez eles sejam mais sinistros do que páginas de jornais policiais. Talvez isso... ou um pouco mais! Quem sabe? Ou quem não? Bem, fica aqui, minha humilde versão!)
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011 0 comentários

Minha História (Alternativa...)

É... Sonhar não custa nada. 

Hoje, ao abrir um e-mail, tive uma grata surpresa: Ana Isabel, uma amiga, me enviou um link maravilhoso. Não vou falar muito, para não estragar a surpresa. 

Porém... Ressalto que o seu conteúdo é realmente mágico! Faz mais do que fazer sonhar. Dá um gostinho de auto-estima, como poucas vezes temos chances de ter. 

Vão lá! Curtam e aproveitem para fazer, vocês mesm@s, sua vida alternativa. Cliquem na imagem abaixo e CURTAM MINHA VIDA NUM UNIVERSO PARALELO! Rssss....





Abração!

Guilherme.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011 2 comentários

Clichê de Natal

Ho! Ho! Ho! (Segue um outro clichê...)
Mas concordo contigo:
É preciso olhar nosso umbigo
Que é pra gente aprender.

Natal é bonito, mas anda mesmo mudado
Trocaram a chita, pelo veludo encarnado.
Talvez ainda se possa, alguma coisa fazer:
Mas da nossa cultura não se pode esquecer.

Happy Christmas! (Segue um outro clichê...)
Mas concordo contigo:
É preciso olhar nosso umbigo
Que é pra gente aprender.

Nosso nordeste é quente
Não se pode negar!
É aqui que vive a gente!
Por que, diabos, mudar?

Jingle Bells! (Segue um outro clichê...)
Mas concordo contigo:
É preciso olhar nosso umbigo
Que é pra gente aprender.

Branco feito a neve, aqui, só conheço
Gelo de água de côco e areia do mar.
Não troco nem um pouco, pois eu mereço
A felicidade de aqui viver e de aqui estar

Feliz Natal! (Segue um outro clichê...)
Mas concordo contigo:
É preciso olhar nosso umbigo
Que é pra gente aprender.

Nada tenho conta o Natal, quero esclarecer!
Mas pelo sentido (capitalista) adquirido vou reclamar!
Quem sabe um dia, seja convencido e possa dizer
Que os bons tempos natalinos puderam voltar!

(Guilherme Ramos, 02/12/2011, 23h45. Um comentário que virou postagem. Coisinha tola, mas divertida. Coisas de blogueiro... e de vida! Rssss...)

 
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