sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Contos que não se contam (parte 7)



7.


Era matar... ou morrer. Eu não teria outra chance. Voragens são guiadas pela fome incontrolável. Infinita. E meu sangue parecia-lhe um bom e velho vinho. Pronto para ser degustado. A questão é: quando algo é orientado por puro instinto, a razão precisa controlar as coisas.


- Vem, neném... Vem me fazer um “cafunezim”... – Disse, abrindo os braços.


A Voragem não perdeu tempo. Avançou como uma bala de canhão contra mim. Eu apenas dei um passo... e sumi. Já estava de volta ao mundo dos vivos. O problema é que precisaria voltar o quanto antes, pois, já dizia uma canção das bandas de lá:


Se lá me feri, eu preciso, por lá, me curar...

Se eu me demorar, a ferida vai aumentar.

Sem cuidados especializados, ela irá inflamar:

E o que não se vê na Terra, em Mori há de matar.


É medicina espiritual simples: se eu estou doente terminal na Terra e for a Mori, meio que fico “imortal” por lá. Daí, se eu voltar aqui... PUF! Vou direto pra sepultura. Viro pó. Caio duro. Morro legal. E o contrário, claro, também vale. O problema é que morrer na Terra tem lá suas vantagens. Tem toda aquela pompa, tiros para o alto, recepção, choro e vela. Já em Mori... Ah... Ninguém vai pra velório ou enterro. Nem precisa. Tem as voragens. Mais prático do que cremação. Mais limpo que banheiro de base espacial.


Nossas doenças terrenas são fichinha se comparadas às infecções de Mori. Um ferimento de Voragem me daria... umas 3 horas de vida. OK, sem dramas. Você já deve ter percebido que eu consegui. Do contrário, não estaria escrevendo essa história, certo? ERRADO! Já vi que você não entendeu NADA do que eu falei até agora. O que é normal, para um amador. Mas presta mais atenção, tá? Não vou explicar novamente: havia um tempo para terminar meu trabalho, limpar a casa antes de voltar. Porque se eu não conseguisse, não poderia mais voltar para Mori, porque estaria fraco demais e morreria bem antes de tentar me curar. Eu ficaria fadado a viver na Terra para sempre, envelhecer e morrer como um humano comum. Acho que chamam isso de “Purgatório”. Agora, além de estar simplesmente na Terra, sem poder fazer tudo o que gosto, aí, já seria um “Inferno”. 


Se você espera que eu faça alguma referência ao “Paraíso”, esqueça. Isso não existe. Alias, até existe... Mas temporariamente: seria estar nos braços da voz de veludo...


- OK, malefícios da casa! – Gritei. Porque tinha pressa. - Aqui estou, de arma em punho, pronto para expulsá-los! Saiam de onde estiverem, porque eu não vou dar outra chance!


- Por que faz isso, estranho? – Disse a vozinha, quase sem força. - Nada fizemos contra você... 

E, de repente, eu não sabia o que responder.

(Guilherme Ramos, 22/02/2013, 00h56. Parece que hoje, a inspiração veio mais louca do que nunca! Rsss...)

0 comentários:

Postar um comentário

Sua participação aqui é um incentivo para a minha criatividade. Obrigado! E volte mais vezes ao meu blog...

 
;