2.
Quem sabe, se eu recorresse à poesia?
Antônia? Josefa? Cláudia? Maria?
Suzete, Bernadete, Bethe... Seria?
Quem sabe, Suzana, Poliana, Hannah?
(Ou simplesmente, Ana) Deus! Que agonia!
Não sei, não me lembro ou recordo sequer
Do nome, da alcunha, da Graça (?) dessa mulher...
De onde foi mesmo que eu (acho que) a conheci?
Seria de minhas andanças (quem sabe as lembranças)
Daqui ou dali? Daqui ou dali! Daqui ou dali...
Suzete, Bernadete, Bethe... Seria?
Quem sabe, Suzana, Poliana, Hannah?
(Ou simplesmente, Ana) Deus! Que agonia!
Não sei, não me lembro ou recordo sequer
Do nome, da alcunha, da Graça (?) dessa mulher...
De onde foi mesmo que eu (acho que) a conheci?
Seria de minhas andanças (quem sabe as lembranças)
Daqui ou dali? Daqui ou dali! Daqui ou dali...
Não sei. Não consigo. A cabeça já começava a ficar vazia. Aliás, “juízo” nunca foi meu forte. Quem poderia ter juízo e andar de ônibus? Isso é meio controverso. Acredito que não adianta ficar me remoendo, tentando lembrar um nome, quando tenho sua fiel proprietária a tão poucos passos de mim. Seria lógico aproximar-me e iniciar um diálogo. Assim, direcionando o assunto para que ela, ao contar uma história sobre si, diga seu próprio nome, num exemplo. Eu fingiria normalidade e, de posse desse prêmio, tesouro, achado, passaria a falar-lhe mais aliviado.
Nem tão logo me aproximei e esbocei um balbuciar, a senhora ergueu-se, nobre, austera, que nem parecia estar num ônibus, mas numa carruagem real. Confesso que quase não me segurei sobre minhas pernas, mas fingi bem. Estávamos a centímetros um do outro. Dava para sentir seu perfume em meio ao odor esquisito de suor misto, em conflito no ar. Ah! Mulher asseada tem essas vantagens. Mais um passo dei; outro, ela também.
Tinha pressa em chegar, pois a essa altura, meu ponto se aproximava. É incrível como, nessas horas, não sentimos o tempo passar. Ele voa como uma águia, com fome, a caçar. Como eu caçava um nome, o tempo caçava meu fracasso! E, pensando assim, demos mais um passo.
A hora era agora. Frente a frente, rosto a rosto, pé ante pé, os dois corpos eram quase um só. E minhas mãos, que estavam segurando a alça do ambiente inóspito já se preparavam para enlaçar sua cintura. Meu gesto lento, porém, foi superado pela doce voz da senhora:
- Querido! Que surpresa encontrá-lo aqui!
Eu sorri e, ao tentar emendar uma resposta, fui surpreendido por uma outra voz, mais grave, às minhas costas:
- Pois é, amor! Meu carro quebrou!
E lá estava eu, como um paspalho, entre um casal de namorados!
Como é belo o amor... Não cega apenas quem se envolve. Mas, também, a quem pega um ônibus lotado. Só me restou pedir licença e deixá-los juntos, lado a lado. Afinal, minha parada era próxima!
- Por favor, motorista! Para o ônibus que eu quero descer!
(Guilherme Ramos, 21/05/2011, pela manhã, refinalizando o Conto “Extraordinária Conversa com uma Senhora de Minhas Relações”, de Carlos Drummond de Andrade, durante um exercício do curso “Escrever Pra Quê?”, realizado pelo SESC/AL)
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