quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Mosaicos


Havia apenas um mosaico. Em mim. Houve vazios, houve preenchimentos. Houve dedicação. Esmero. Vocação. O resultado pode ser contemplado pelas mais diversas plateias. O público que me visita e me conhece. O público afetivo. E afetado. Pessoas que vem e vão com os dias, os meses, os anos. E a minha vida fica. E segue em frente. A arte por mim imposta não deseja agradar a tudo e todos. Quer apenas agradar a mim. Acalmar o meu coração que, tal qual tal mosaico, precisa secar para ser concluído. A beleza que existe na obra de arte inacabada, não se compara ao seu término. A conclusão de um sentimento é similar. Com exceção de que não há críticos de arte. Há apenas críticos. E suas críticas de nada me interessam. Meu “mosaicoração” precisa de um tempo - apenas dele - para ficar pronto. E, ao ser concluído, será único. No mundo.

Para mosaicos serem feitos, é preciso quebrar azulejos, cerâmicas, vidros e afins. Assim como quebramos a cara, despedaçamos corações e fragmentamos sonhos. Parece cruel, mas é em prol da arte. Isoladamente quebrados, esses sentimentos-objetos servirão à construção de algo maior, híbrido, repleto de histórias separadas, que se tornarão outra. Diferente. Maior.

Corações, tais quais mosaicos, precisam passar pelo mesmo processo. Quebra, seleção de pedaços, reagrupamento, colagem, secagem e acabamento. A partir daí, estarão prontos. Para serem contemplados. Como merecem. Com a grandeza que nunca deveria ter sido empregada a outro. Semelhante. Porque nunca haverá outro igual. Nem mosaico, nem coração.

Mosaicos, tais quais corações, tem vida (im)própria. Passam por intempéries que os desgastam. Somente os de qualidade resistem. É um aprendizado lento, repleto de técnica, mas também da tradicional experimentação. É de “tentativa e erros” que se alcança o objetivo. Tentativa. E erros. Muitos erros. Somente assim chegamos aonde realmente queremos.

Corações. Mosaicos. Mosaicos. Corações. O que seriam, senão agrupamentos de sensações? Sentimentos. Sentidos. Ressentidos. Consentidos. Às vezes, sem sentidos.

Apenas mosaicos.

Apenas corações.

Assim como poesias são poesias; canções são canções.

(Guilherme Ramos, 26/12/2013, 17h01.)

Imagem: Google.

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