terça-feira, 15 de abril de 2014

Composição


E foi assim:
Ele compôs uma melodia para ela.
Pelo amor que sentia.
Pela falta que ela fazia.
Pelas lembranças que surgiam.
Por ele.
Por ela.
Pelos dois.
Eram acordes maiores.
Um ou outro acidente.
Como foram eles, em momentos atrozes.
Casal difícil.
Tão iguais, de tão diferentes.
Tão tristes, mesmo tão sorridentes.
Mas o amor não se compõe tão simplesmente.
Ele se cria, se concebe, de maneira exigente.
E assim foi:
DÓ. De SI. Do que sentia.
LÁ, nada mais podia fazer.
Sem ela, DOrmir ficou impossível.
REfez MIlhares de vezes sua partitura,
Até que a SOLidão se apossou de seu coração,
FAzendo de sua composição,
Uma mera improvisação.
E sozinho, o solo se fez.
Na escala certa,
No andamento certo,
Num ritmo frenético,
Mas faltou harmonia.
E, num dado momento,
O tom não era mais o mesmo.
O arpegio não convenceu.
A melodia perdeu a expressão.
Ritmo? Nenhum. Foi o fim.
... Fim da relação.
Partido, o coração buscou socorro.
Em outras inspirações.
Mas havia apenas pausas.
Silêncios extremos,
Meras palavras.
O som, o timbre, a essa altura,
Não justificavam a freqüência
Com que ela aparecia e desaparecia.
Em seu coração.
Uma partitura de solidão.
Ela...
Sua única,
Exclusiva,
Verdadeira...
Composição.
Da Capo al fine.


(Guilherme Ramos, 15/04/2014, 00h56.)

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