quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Passado Sombrio; Futuro Negro

Willhelm Schneider já foi um jovem dinâmico e festivo. Aos 18 anos, era comum vê-lo com seus amigos, passando noites em festas e comemorações. Will, como era conhecido, costumava ser o primeiro a chegar e o último a sair de uma festividade.

- A bebida e as mulheres deveriam ser aproveitadas ao máximo pois, um dia, virá a morte e acabará com isso... cedo ou tarde. – Esse era seu pensamento e da grande maioria de seus amigos.

Certa noite seu grupo voltava para casa, quando se deparou com uma jovem aldeã de uns 15 ou 16 anos. Ela parecia assustada com algo que vira nas proximidades e pediu ajuda aos rapazes.

- Claro, minha querida. Pode ficar conosco. Você, agora, está “segura”... – disseram alguns, ironicamente.

A cada passo, olhares discretos recaíam sobre aquele corpo. A fina seda que o cobria parecia ressaltar suas belas e provocantes curvas. O álcool, tão presente na cabeça daqueles jovens, insinuava que aquela garota, aquela criança, já era mulher.

Ela se apresentou. Lígia. Um belo nome. Mas o cavalheirismo acabou por aí. O instinto falou mais alto que a razão nos corações dos cinco rapazes. Cinco animais, isso sim. A pobre garota não teve a menor chance e, prematuramente, perdeu sua inocência.

- Sua vez, Will... – Disse um deles.

Willhelm deu dois ou três passos em sua direção. Foi aí que teve um breve momento de lucidez.

- Seus olhos são tão puros... Sua pele tão macia... Por que fazemos isso com ela? Isso é loucura... Loucura! – Disse, dando as costas.

- Você é um fraco, Will! Um fraco! – Disse outro.

- Sem nomes, idiota! – Esbravejou outro. – Essa vadia pode dar com a língua nos dentes! – Concluiu, espancando a jovem.

Muitos foram os golpes. E Willhelm nada fez...

Nada mesmo.

- Vamos embora. Essa vagabunda já teve o que merecia. – Disse um dos rapazes. – E quanto a você, Will, lembre-se: o que fizemos foi para lhe ajudar. Se a deixássemos viva, ela diria seu nome para todos. Você nos deve isso! – E foram embora.

Willhelm voltou ao beco e olhou para o corpo da jovem. Foi aí que ele viu sua mão direita, um terço de prata. Ela não o largou um só momento. Aos seus pés ainda havia um livro marcado com uma fita vermelha: um missal.

- Deus!... O que foi que eu fiz? – Pensou.

Ele pegou o missal e abriu na página marcada. Lá estava um intróito:

“FAZEI-ME justiça, ó Deus, e defendei a minha causa contra um povo sem piedade; livrai-me do homem iníquo e enganador. Vós que sois, ó Deus, a minha fortaleza. Salmo ib. 3: Enviai a vossa luz e a vossa fidelidade; elas me conduzirão e me levarão ao vosso monte e aos vossos tabernáculos...”

E naquele momento, Willhelm se sentiu um “homem iníquo e enganador”. Alguém que ela tanto evitara. Alguém de quem, talvez, ela estivesse fugindo e pediu auxílio ao seu grupo de amigos...

- Que amigos... Que heróis... Onde nós dois fomos nos meter, Lígia... – Pensou, recolhendo o terço e o missal.

De repente, sons de passos e algumas vozes interromperam seu pensamento.

- Por aqui!... – Dizia a voz. – Os gritos vinham do beco!

Willhelm persignou-se e fugiu apressando.

Anos mais tarde, Willhelm renegou a riqueza material, tornando-se um franciscano. Viajou pelo mundo, conhecendo muitas pessoas e lugares diferentes. No entanto, em seu íntimo, permanecia uma sensação estranha. Ele se sentia observado desde o momento em que seu grupo acolheu a garota até mesmo hoje. Era esquisito, sobrenatural, até. É como se o passado sempre o acompanhasse, não importa para onde fosse ou o que fizesse.

Por essa razão, além da teologia, dedicou-se ao estudo dos mistérios do homem. Assim, Willhelm se mantém nos limites da realidade.

São nessas horas que se pega pensando:

- Do que Lígia fugia mesmo?

Infelizmente, não prestara atenção às explicações da garota. Estavam todos tão bêbados e interessados na jovem, que sequer se deram o trabalho de ouvi-la...

E agora, é tarde demais...

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