quinta-feira, 18 de abril de 2013

Frígida






Era frígida. Muito frígida. Completamente frígida. Do tipo que fica olhando o teto, escolhendo a cor ideal, enquanto o marido está enfiado nela, já dando a “terceira” na mesma noite, pra ver se ela goza também. Quando ele tomba de lado, exausto, sonolento e suado, ela se levanta, toma banho (de touca), escova os dentes, põe creme no rosto, nos braços, nas pernas, desliga a luz do banheiro e, na total escuridão, volta para a cama. Demora a dormir. Sua mente funciona diferente e quase nunca sonha.

Desde pequena foi assim. Estranha. Esquisita. Excluída. Não tinha amigos na escola. Não brincava com as crianças na rua em que morava. Solidão era coisa comum. Seus pais se separaram quando tinha dois meses. Não se lembra do pai. Lembra da mãe só até uns oito anos. Ela saiu de casa para comprar leite e nunca mais voltou. Criada pela avó, sentia-se só mais uma fêmea em processo de engorda, à espera do abate.

Sempre teve dificuldade em sentir prazer. Talvez nunca tenha sentido. De nenhum tipo. Nem com sorvete de chocolate, durante o verão. Nem com chocolate quente, em pleno inverno. Frieza. Isso lhe parecia acolhedor, familiar. Talvez... Não, não. Mesmo assim, não conseguia Sentir. Nem isso. Nada. 

Quase não teve namorados. Na realidade, só um. E casou com ele. Virgem. Ele a amava. Só bastou isso. Vários anos juntos. Nenhum filho. Sexo recatado. Luz apagada. Marido quente. Ela, fria. Nem morna ficava. Houve muito esforço do marido. Para agradá-la. Para excitá-la. Nenhum sucesso. Chega uma hora que o outro não aguenta. Vai embora. De mala e cuia. Explica a razão. Ela apenas olha. Ele chora. Ela, não. Ele vai. E nem saudade ela conseguiu sentir. 

Ficou só. Ela e a casa. Não quis mais sair de lá. Fazia compras pela Internet. Pagava com cartão de crédito. Evitou, a todo custo, contato humano. Um dia, uma semana, um mês. No escuro. Sem ninguém. Até baterem em sua porta. Não atendeu. Não era dia de entrega. Bateram novamente. Insistiram. Muito. Ela decidiu ver quem era. 

Tão logo girou a maçaneta, foi empurrada para trás, bruscamente. À porta estava um homem mascarado, cheio de más intenções. Ela tentou correr, mas foi agarrada. Tentou gritar, mas teve sua boca amordaçada. O homem segurou-lhe pelos cabelos, fungou-lhe o pescoço e lambeu suas orelhas como um animal faminto. Pela primeira vez, ela sentiu algo. Seria, aquilo... Medo? 

Não teve tempo de raciocinar. Amarrada à cama, teve suas roupas rasgadas. Seu corpo foi possuído como nunca havia sido. O homem era um faminto. Deveria estar sem sexo há anos. Ela, ela... ela entendia aquilo. Ela sabia o que era ser privada de algo por toda a vida. Ela queria aquilo. Ela queria sentir prazer. Aquele homem estava tão faminto... Tão fogoso... Ela, ela... ela também queria estar! 

O homem continuava. Era insaciável! Que coisa! Que coisa!... Que coisa gostosa! Que macho esplêndido! Que cacete gostoso! Que porra louca era aquela situação! E o que era aquele arrepio? O que era aquele arrepio? E os seios duros? Os mamilos armados, apontando para seu desconhecido violador, implorando para serem apertados, lambidos, chupados... 

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!... - Ela gritou. - Me fode! Me fode! Me foooooooodeeeeeeee!!!! 

O homem parou por uns instantes. Ela se conteve. Ele, puxando-lhe pelos cabelos, colocou-a de quatro e a penetrou. Mordeu ombros e pescoço. E ela... adorando. Querendo mais. Mais rápido. Mais forte. Mais. Tapas, mordidas, lambidas... Não sabia explicar o que estava sentido. Apenas sentia. Como nunca sentiu antes. Como queria sentir sempre. Tremeu, chorou, riu, gargalhou, ruborizou... 

- Gozei. 

Ao ouvir aquilo, o homem parou, vestiu-se e foi embora.

- Você vai... voltar? - Sussurrou, antes de adormecer, mesmo sabendo que ele não escutaria. 

Para sua surpresa, ele voltou na outra noite. Mascarado. Violento. Insaciável. Como na primeira vez. Vieram outros dias, semanas, até completar o mês. O sexo ficava cada vez melhor e os orgasmos, múltiplos - não importando se à meia luz ou com todas as lâmpadas acesas... 

- Você vai voltar? - Certa vez ela falou em alto e bom tom. Para ter certeza de que ele escutaria. 

Calado, o homem afastou-se e a observou. Exausta, nem podia se defender. Ele poderia matá-la naquele momento, que nem reagiria. Até morreria feliz. Mas ele apenas se vestiu e foi embora. Ela ainda pensou em impedi-lo, mas... com que forças? Ele foi embora. De mala e cuia. Sem explicar a razão. Ela apenas olhou. Ele não chorou. Ela, sim. Ele foi. E a saudade já começou a surgir... 

- ATÉ QUANDO VOCÊ VAI VOLTAR? - Gritou. E gritou alto. 

- Até que a morte nos separe. - Disse seu marido, voltando ao quarto com a máscara nas mãos... 

(Guilherme Ramos, 18/04/2013, 02h10.) 

[Mais um conto da série... “Sobre Mulheres e Fêmeas”...] 

Imagem: Google.

3 comentários:

A Pimentiinha disse...

Chorei largado...
É tudo o que eu estou vivendo... é tudo o que eu sinto...
Me senti despida, lendo seu "recado"
Recado este que dentei dar diversas vezes a alguém... Mas o calar sempre se faz mais forte que o agir...
Muito bom seu blog...
Tamo junto e atrelados! rsrs
beijo, Gui!

Luciana Deschamps disse...

Excitante e emocionante..
Parabéns Gui...

Luciana Deschamps disse...

Excitante e emocionante..
Parabéns Gui..

Postar um comentário

Sua participação aqui é um incentivo para a minha criatividade. Obrigado! E volte mais vezes ao meu blog...

 
;